quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Os tempos do Padre Chico

 

Com a partida do Pe. Adolfo Testa, mais uma vez, a paróquia ficou sem clero próprio. Dom José Thuler, administrador apostólico de Dom Aguirre em Sorocaba, anexou a paróquia de Cesário Lange à de Porangaba, cujo vigário era Pe. Luiz Bazzo. Foram oito meses um tanto irregulares. Não faltou assistência religiosa à paróquia, pois além do pároco de Porangaba, outros sacerdotes se revezavam no atendimento à paróquia. Entre eles, vale a pena lembrar dois sacerdotes: monsenhor Benjamim de Souza Gomes, que em 1968 seria ordenado bispo de Paranavaí, falecido em 1995 como bispo emérito e monsenhor Antônio Maria Mucciolo que em 1977 seria ordenado bispo de Barretos e hoje é arcebispo emérito de Botucatu. Ele é um dos fundadores da Rede Vida de TV. No entanto, as obras ficaram interrompidas, portando, quando o novo vigário foi nomeado em 31 de dezembro de 1964, foi viva a satisfação de toda a população católica.

No dia 24 de janeiro de 1965, Pe. Francisco de Assis Moraes, então vigário cooperador da paróquia Nossa Senhora dos Prazeres em Itapetininga, era empossado como pároco de Cesário Lange. Uma "era" estava começando porque Pe. Chico, como logo foi chamado, irá permanecer como pároco por quase dezoito anos. Pe. Chico contava então 26 anos de idade e usou de sua juventude e seu entusiasmo para reorganizar a paróquia.

A situação econômica da paróquia era crítica. A igreja inconclusa, a nova casa paroquial semiabandonada. O novo padre, sabendo dos problemas anteriores, começou montar uma nova estrutura mais adequada aos tempos novos trazidos pelo Concílio Vaticano II recentemente concluído. Criou ele um "Conselho Administrativo Paroquial" composto de nove membros, onde tentou recompor as antigas divisões, pondo forças opostas lado a lado. Tinha esse "conselho" a missão de retomar e concluir as obras da igreja matriz, equipar a casa paroquial, modernizar o cinema paroquial, que era a única atração que tinha a cidade, preservar o barracão de festas: o único e modesto patrimônio da igreja.

Pe. Chico tentou introduzir a prática do dízimo, que embora fosse um preceito eclesiástico antigo, sempre fora deixado de lado, eliminando assim as espórtulas e taxas que eram cobradas pela igreja àqueles que se dirigiam a ela para solicitar algum serviço. Também se estabeleceu uma côngrua ao pároco que seria de três salários mínimos, o que tão logo pôde, o padre desfez dela, ao conseguir licença do Bispo para exercer outras atividades, primeiro no magistério, onde era licenciado e mais tarde no exercício do Direito, quando se bacharelou como advogado em 1969.

Junto com o novo "Conselho Administrativo" ele acabou com as grandes festas dos padroeiros da Paróquia com aquelas atrações de artistas do rádio e TV, pois além de serem excessivamente profanas e dispendiosas, traziam poucos retornos financeiros. Antes, propôs-se um trabalho sistemático e austero de levantar fundos através de rifas e outras promoções, além das antigas festas paroquiais. Por exemplo, em 04 de maio de 1968, a paróquia rifava com a ajuda de Benedito Camargo e de sua esposa Edith Mendes um VW Sedan, 0 Km, em benefício das obras da igreja.

Assim, tendo à frente Luiz Rodrigues Duarte e João Batista da Silva e mais cinco membros, já no dia 04 de fevereiro de 1966, recomeçavam as obras da igreja com seu revestimento interno. Entre os dias 09 e 16 de julho de 1967, a veneranda torre da antiga igreja construída por Pe. Gravina, graças à insistência de Domiciano Rodrigues Paulino, vinha a baixo e se construía outra, mais sóbria, onde em dezembro de 1968, com a ajuda da Prefeitura Municipal de Cesário Lange instalou um relógio elétrico DIMEP, que ao passar do tempo se mostrará inadequado, até ser substituído pelo atual.

Também, quanto ao acabamento interno da igreja, adotou-se um estilo despojado, despido de ornamentos, com paredes totalmente brancas, sem altares laterais, que perdiam sua razão diante da reforma litúrgica. Desapareciam também as imagens tão caras ao povo católico de Cesário Lange. A razão em si era bem-intencionada. Toda a liturgia deve ser orientada a Deus, isto é, cristocêntrica. Numa igreja matriz que tem o privilégio de ter a presença real de Cristo no sacrário, corre-se o risco que práticas devocionais, em si boas e aceitas, possam distrair os fiéis do essencial. Essas providências foram tomadas de maneira um tanto afoita e sem a devida preparação do povo. Não poucos entre os fiéis se sentiram constrangidos com esta decisão. A bem da verdade, a reforma litúrgica iniciada há mais de quarenta anos atrás durante e após o Concílio ainda não atingiu de todo os seus objetivos.

Em março de 1971, as portas da igreja estavam prontas, José Miranda (Mirandinha) doara a madeira. No mês de abril de 1972, chegavam 98 bancos novos e por fim, no dia 21 de maio do mesmo ano com a presença do Pe. Antônio Dragone, então pároco de Guapiara e que recebia o seu título de cidadão honorário de Cesário Lange, também com a presença de frei Nuno Alves Corrêa, Dom José Melhado Campos inaugurava definitivamente a nova igreja matriz. Desde a primeira pedra daquele distante 15 de maio de 1952, abençoada por Dom Aguirre, até aquele dia 21 de maio de 1972, vinte anos e cinco dias tinham passado.

Pe. Chico insistiu, também, muito na catequese, inclusive com aulas de religião nas escolas, e na preparação melhor das pessoas aos sacramentos, incentivando principalmente na leitura assídua da Bíblia, promovendo campanhas para que as Escrituras Sagradas estivessem ao alcance de todos. Assim também outras "novidades" eram introduzidas como o Movimento Familiar Cristão, quando no dia 05 de junho de 1965, um grupo de sete casais de Cesário Lange se reuniram com dois elementos vindos de Sorocaba e um casal de Tatuí para dar início a esse movimento na paróquia. Um embrião das atuais pastorais, que hoje são o sustentáculo de toda a atividade paroquial.

Por outro lado, as tradicionais irmandades que, até então, eram a coluna vertebral da paróquia, se não foram extintas, também não foram incentivadas. O motivo era um tanto equivocado. Ao conceito de Igreja como comunhão e povo de Deus retomado pelo Concílio Vaticano II, parecia que a existência das irmandades excluía os simples fiéis que não faziam parte delas. Em Cesário Lange parece que esta posição foi realmente um tanto equivocada, tanto que mais tarde, algumas delas serão restauradas. Outra "novidade" que reapareceu foi a presença de leigos no auxílio da celebração dos sacramentos. Em abril de 1969, saíra a instrução “Fidei Custos” emanada pela autoridade do Papa Paulo VI que mudava uma disciplina arraigada há séculos na igreja latina e que permitia que leigos, portanto, não “ordenados” pudessem participar como auxiliares dos ministros ordenados em determinadas funções. Tal instrução foi reforçada pelo documento “Immensæ Caritatis” de 1973 do mesmo Papa. Os primeiros que foram escolhidos e preparados para tal função foram Honório Roque de Miranda Torres, Joaquim Vieira da Silva e Lázaro Corrêa Sampaio que em 1975 foram provisionados pelo bispo Dom José Melhado Campos como os primeiros “ministros extraordinários da Sagrada Comunhão”. A experiência foi tão boa e bem aceita pelo povo que em 16 de dezembro de 1979, novos ministros extraordinários foram provisionados e pela primeira vez também oito mulheres. Também, a preocupação com a evangelização foi reiterada ao se exigir a partir deste mesmo ano, os "cursinhos" de batismo e matrimônio para a celebração destes sacramentos.

Outras providências, em nível de patrimônio, foram tomadas como a cessão do barracão, que estava semiabandonado a um grupo de jovens para que fundasse ali um clube, onde a juventude pudesse reunir e divertir-se. Para tanto, os próprios jovens reformaram e ladrilharam o barracão. Assim também, resolveu-se arrendar o cinema paroquial a terceiros que passavam explorar este local, que ao lado do novo clube, eram os únicos pontos de entretenimento destinados aos jovens de Cesário Lange. Para se ter ideia das dificuldades da época, basta lembrar que a paróquia não tinha veículo próprio e o próprio padre com recursos próprios e outros emprestados adquiriu para as visitas rurais um "excelente" Ford '29, em novembro de 1966, que só andava graças à perícia e a paciência de Francisco Nóbrega Vasconcelos (Titico) e de Cesário Ribeiro da Silva (Cesarinho Pisca-Pisca), que pacientemente faziam a manutenção quase que diária do "excelente" veículo.

Por outro lado, começou-se uma descentralização da vida paroquial, ganhando as comunidades periféricas da cidade como as rurais, incentivo para ter vida própria. Eram os embriões de algumas prósperas comunidades atuais. Para isso, contribuiu em muito uma mudança radical em ser Igreja proposta pelo Concílio Vaticano II. Uma Igreja que se desvencilhava definitivamente de velhos costumes herdados do tempo do padroado para ser uma Igreja testemunha, profética e servidora. Não mais submissa e conformada com o "status quo", não permitindo o seu uso para fins politiqueiros. Por exemplo, em 1.º de março de 1966, Dom José Melhado Campos, bispo coadjutor e administrador apostólico de Sorocaba, tomava uma série de medidas práticas. Assim, as visitas pastorais do bispo deveriam ter um caráter unicamente religioso, nada mais de discursos, recepções festivas, morteiros, banquetes... Os sacerdotes poderiam celebrar a Missa em qualquer lugar decente (exigia-se, ainda, a pedra d'ara no altar improvisado). Mitigava ainda mais o jejum eucarístico e com isso aumentava a frequência da comunhão nas Missas vespertinas. Permitia a presença de sacrários em capelas, onde houvesse necessidade por parte da comunidade e a garantia de respeito a tão augusto Sacramento. Permitia a atuação de mulheres junto ao altar para a conservação dos objetos litúrgicos, etc.

Outra preocupação do Pe. Chico foi com o problema social reinante em Cesário Lange. Quando ele aqui chegou, o município tinha cinco anos de existência e uma administração deficiente, seja devido à falta de recursos, como devido à inexperiência no trato da coisa pública, onde proliferava o clientelismo político e o nepotismo. Também faltava quase tudo em termos de serviços públicos. A eletricidade era deficiente, havia pouca água encanada, não havia esgotos. Instalara há pouco um curso ginasial improvisado no velho grupo escolar, não havia asfalto nas ruas. Em questão de saúde havia um único posto de saúde bastante deficiente, pois embora este posto tivesse sido montado em 1962, em 1968 ainda não tinha um médico efetivo, (hospital, nem sonhar...), nem assistência social. Não raro cabia ao padre, ou outra pessoa designada por ele, "correr o chapéu" para adquirir um simples caixão daqueles de pano roxo para sepultar os mais desfavorecidos. Por exemplo, quando ele aqui chegou em 1965, a Rua do Comércio, a principal da cidade, não era mais nada do que a estrada que ligava Tatuí a Porangaba que atravessava pelo meio da cidade, pavimentada com pedregulhos e com muita poeira. Quando em 1967, esta rua foi asfaltada, o padre comemorou, lançando no Livro do Tombo da paróquia a realização de tal notável obra.

Diante de tal quadro, Pe. Chico, ainda que sem recursos, começou conscientizar a população e montar, na medida do possível, qualquer coisa que pudesse amenizar tal situação. Assim, ele reorganizou a "Caritas Nostra" em fevereiro de 1966 como um órgão permanente de assistência aos mais necessitados e de promoção social. A população mantinha a "Caritas Nostra" através de carnês pagos mensalmente, espontaneamente. Muitas pessoas dedicadas e caridosas gastavam seu tempo e recursos neste mister. Em abril de 1979, o bispo auxiliar de Sorocaba em visita pastoral, Dom Amaury Castanho, anotava no Livro do Tombo que a "Caritas Nostra" socorria uma média de 100 famílias por mês, fornecendo desde remédios até alimentos. A "Caritas Nostra" ganhou sede própria na Rua Pe. Gravina, onde se construiu um albergue com banheiros e depois um amplo salão. Depois do paroquiato do Pe. Chico, praticamente, a "Caritas Nostra" perdeu seus vínculos com a paróquia. Essa parte assistencial da Paróquia Santa Cruz, hoje, é feita pelas “Conferências de São Vicente de Paulo".

Outra obra de relevo iniciada e concluída pelo Pe. Francisco de Assis Moraes com obstinada vontade contra a descrença e mesmo antagonismo de muitos foi a "Beneficência Hospitalar de Cesário Lange", popularmente chamada de "Santa Casa". Tinha a paróquia um terreno com 1.500 metros quadrados na Vila do Cruzeiro, onde se pensava construir um outro posto da "Caritas Nostra". Era pequeno para uma Santa Casa. Pe. Chico negociou com a Fazenda Nova Esperança o terreno da Vila do Cruzeiro por uma área de 3.000 metros quadrados na Vila Brasil. Tentou convencer as autoridades municipais para participarem do projeto. A recepção foi pífia, senão hostil. Assim, ele começou a arrecadar junto à população recursos para tal fim e no dia 14 de agosto de 1977, Dom José Melhado Campos procedeu a bênção do terreno e imediatamente começaram as obras. Foi um sufoco tal obra. Havia oposição principalmente por parte de alguns políticos, que na visão do padre, perderiam o expediente de levar os doentes para as benzedeiras e curandeiros em época de eleição para angariarem votos (Livro do Tombo 1, 183), havia, por outro lado, também muita generosidade de tantas pessoas anônimas e o apoio da população. Francamente, tem que se reconhecer em Pe. Francisco de Assis de Moraes um homem obstinado, de visão, às vezes, autoritário e determinado, que reconhecia o seu próprio valor e capacidade, que o possibilitava fazer bastante com muito pouco. Se conquistou muitos admiradores, é certo também que ganhou muitos detratores. Aliás, essa última asserção não foi um “privilégio” de Cesário Lange. É quase um lugar comum. Em 1976, o historiador pereirense Paulo Fraletti discursava que a cidade vizinha de Pereiras se penitenciava ao nomear um largo da cidade com o nome de Pe. João Baptista de Palma (que também foi pároco por alguns meses em Cesário Lange em 1918), pois no dizer do historiador, o Pe. Palma fora uma das personalidades mais progressistas e de visão que tivera Pereiras e que depois de muitos anos de desinteressada dedicação, fora obrigado a se retirar da cidade devido a injúrias e calúnias movidas contra ele por políticos locais mesquinhos. Talvez um dia, Cesário Lange faça também justiça a Pe. Francisco de Assis Moraes.

Pôde, no entanto, apesar de todos os percalços, o padre ver inaugurada oficialmente a Santa Casa no dia 21 de dezembro de 1982, oito meses após ter ele deixado o paróquia Santa Cruz de Cesário Lange. Se no início de seu paroquiato, Pe. Chico tentara uma composição com as autoridades, com o passar do tempo, foram-se deteriorando as relações, como foi visto, que até se tornou hábito por parte do padre em meses que antecediam eleições municipais deixar de fazer homilias durante a Missa para não dar oportunidade de ver suas palavras destorcidas. É uma de suas queixas recorrentes nos documentos da igreja. Ganhava o padre a vida, ministrando aulas em cidades vizinhas (até em São Paulo, onde ensinou filosofia), pois em Cesário Lange, ainda que faltassem professores, ele não tinha vez. Numa cidade vizinha, certa vez, perdeu algumas aulas porque fora denunciado junto ao DOPS por gente de Cesário Lange de ser "subversivo". Houve mesmo um cidadão que não merece ser citado, que foi a certa repartição do governo estadual, onde o padre estava pleiteando verbas para a Santa Casa, para dizer que "Cesário Lange não precisava de hospital". Diante desta situação não deixou de ser um "golpe baixo" bem aplicado pelo padre, quando ele se inscreveu no partido do governo, a ARENA e mais, conseguiu, não com certa astúcia, ser o delegado do partido na região. Como pode alguém que pertence ao partido da ditadura que governava o Brasil ser subversivo! Nessa discutível função, foi ele um dos mais de 600 delegados da ARENA que no colégio eleitoral de 1978 elegeram para governador de São Paulo uma pessoa funesta, que não honra página alguma. Pe. Chico "vendeu" seu voto a este governador por três promessas, feitas por escrito: o asfaltamento da estrada Tatuí-Cesário Lange, a construção de um trevo para a Vila Brasil, e verba para terminar a Santa Casa. Só a última promessa foi cumprida às turras, é verdade, mas foi a que possibilitou a conclusão da grande obra, que presta notáveis serviços a Cesário Lange e às cidades vizinhas, principalmente aos mais pobres, apesar das crises crônicas e cíclicas que vem sofrendo, aliás, como toda a saúde desta imensa nação chamada Brasil.



Nota: Depois de mais de três anos e meio, volto postar a continuação da história da Paróquia Santa Cruz de Cesário Lange. Durante este longo período, para minha surpresa, recebi muitos contatos de pessoas amigas e outras desconhecidas que encontraram algo de útil nestas notas, ainda que mal redigidas e postadas de maneira muito descuidada. Retomo, então.

Uma nova matriz – 2


A saída do Pe. Antônio Dragone que marcou a história da Paróquia Santa Cruz, principalmente, devido à construção da nova igreja matriz, foi dramática, motivada pelos acontecimentos políticos que afetaram Cesário Lange e seu sucessor terá também dificuldades em relação às instabilidades políticas e econômicas pelas quais passavam o Brasil naquela época com reflexos na própria ordem institucional da nação.

Jânio Quadros que havia sido empossado como presidente da República em 31 de janeiro de 1961, embora tivesse sido eleito, apoiado pelas elites brasileiras, vinha tomando posições bastante controversas. No plano externo, exerceu uma política não alinhada. Apoiou Fidel Castro diante da tentativa fracassada de invasão da Baía dos Porcos pelos norte-americanos, por exemplo. Além disso, Jânio rompeu com o partido que o elegeu, a UDN, provocando enorme insatisfação. Havia uma grande suspeita que o Brasil ao desafiar os norte-americanos estivesse se aproximando dos soviéticos (comunistas). Estávamos em plena Guerra Fria, onde parecia inevitável um confronto nuclear entre o Primeiro e o Segundo Mundo. Organizavam-se, então, grupos pelo Brasil que se propunham em denunciar os comunistas ou supostos tais.

Em Cesário Lange, o auto proclamado chefe de tal campanha era o vereador Lázaro Mendes Castanho, líder do prefeito na Câmara. Parece que o vereador acreditava que havia elementos "comunistas" infiltrados na igreja. Na noite de 03 de junho de 1961 encerrava-se o mês de maio, dedicado à Virgem Maria, o vereador em questão entrou tempestuosamente no recinto sagrado durante uma bênção do Santíssimo Sacramento para coletar um abaixo-assinado contra os "comunistas". Ao ser contido, reagiu, provocando tumulto e escândalo. O ato foi considerado de tal gravidade pelo Bispo diocesano que provocou a interdição da igreja – algo inédito -, que ficou fechada por dois meses e o pároco foi transferido definitivamente para Porangaba, onde também era ocupava o cargo. A gravidade do gesto impensado e o repúdio geral da população a tal incidente levaram o vereador a renunciar a sua liderança da "Campanha contra os comunistas" na sessão da Câmara na noite de 09 de junho seguinte a favor de seu companheiro, o vereador José Vieira de Miranda (futuro diácono). Realmente, dois meses depois, no dia 05 de agosto, Pe. Antônio Dragone, agora residindo em Porangaba, discretamente, reabria a igreja, e voltava a atender a sua antiga paróquia que perdia sua autonomia e ficava, daí em diante, anexada à paróquia de Porangaba, enquanto aguardava uma solução definitiva com a vinda de um novo pároco.

Mesmo assim, as obras da matriz continuaram. Por exemplo, os 936 metros quadrados de forro da igreja eram feitos por um carpinteiro de Sorocaba contratado por Cr$ 200.000,00 (a igreja fornecia o material). Também, se lançava a campanha dos vitrais entre as famílias de Cesário Lange. No entanto, no dia 24 de dezembro de 1961, Pe. Antônio Dragone ficava sabendo da nomeação do novo pároco para Cesário Lange. Ao se despedir de sua paróquia e da igreja que começara, fez seu inventário: o forro da igreja estava quase pronto e as suas paredes estavam prontas para o revestimento. Deixava em caixa a importância de Cr$ 1.240.632,40 e as seguintes irmandades e associações organizadas: Pia União das Filhas de Maria, Cruzada Eucarística, Congregação Mariana (que contava, então, com uma banda musical: "A Corporação São Luis Gonzaga"), Obras das Vocações, Apostolado da Oração, Confraria do Rosário, Irmandade do Santíssimo Sacramento e até o Cemitério Paroquial tinha um pequeno saldo: Cr$ 15.397,00.

Para a chegada do novo pároco, Pe. Adolfo Testa, frei Nuno Alves Corrêa, religioso carmelita oriundo da cidade, que era então pároco da igreja do Carmo em Santos, Ponta da Praia, foi convidado para preparar o terreno e desarmar os ânimos. Realmente, a chegada do novo vigário, o Pe. Adolfo Testa, pode ser descrita como triunfal, o que aconteceu no dia 27 de janeiro de 1962. Aparentemente, as divisões tinham sido sanadas, o que de fato não acontecera por completo.

O novo pároco era em muito diferente de seu predecessor. Embora ele não tenha mudado a rotina da vida religiosa da paróquia, mas aconselhado por um grupo diferente daquele que até então vinha trabalhando em prol das obras da igreja, apostou nas realizações de grandes festas e quermesses com participação de artistas populares do rádio e da televisão como meio de angariar fundos para as obras da igreja. As festas em seu aspecto religioso saíram a contento, mas deixaram a desejar quanto aos resultados econômicos. A cidade não tinha estrutura para tanto. Desolado o padre comenta: de uma vez, choveu demais, em outra, faltou energia elétrica, que, por sinal, era muito precária. Além demais, o padre resolveu construir uma nova casa paroquial que estava num estado desolador (Pe. Antônio Dragone, deliberadamente, descuidara de sua casa, direcionando todos os recursos para as obras da nova matriz). Para levantar recursos para mais esta empreitada, a paróquia vendeu parte de seu patrimônio, justamente a sua velha casa paroquial com seu enorme quintal que ficava na Rua do Comércio, acima do atual Salão de Catequese.

Para se ver como o governo municipal se entendia com o novo pároco, basta lembrar, que até a Prefeitura ajudou na construção da nova casa paroquial, destinando uma pequena dotação para tal fim. A nova casa paroquial foi construída atrás da nova igreja e foi abençoada por Dom José Carlos de Aguirre em 24 de março de 1963. Outra realização foi a fundação da "Sociedade Beneficente Caritas Nostra" (ela mais tarde será reorganizada pelo Pe. Francisco de Assis Moraes) pelo Pe. Adolfo Testa no dia 08 de janeiro de 1963. Não era a primeira instituição no gênero para socorrer as pessoas mais necessitadas. Na realidade, em 31 de março de 1940, fora fundada aqui uma Conferência de São Vicente de Paulo, que infelizmente não tinha vingado.

Outro fato relevante foi a realização das "Santas Missões", o que não acontecia desde 1948, entre os dias 06 a 16 de setembro de 1963 pelos “Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria”, missionários claretianos. Foram pregadores os padres Alberto Esmanhotto, Vicente Vieira e Aniceto Artidório de Lima que causaram excelente impressão no povo. Como marco destas missões se construiu num lugar alto e ermo da cidade que foi chamado de Praça João XXIII (em memória do inesquecível Papa, que cativara o mundo inteiro e que falecera em 03 de junho de 1963) junto à caixa de água, uma grande cruz de cimento, o Cruzeiro, que mais tarde seria iluminado com luz néon e que daria nome à vila que surgiu em sua volta.

O padre não deixou de registrar uma grande calamidade natural que atingiu a região. No mês de outubro de 1963, depois de muitas orações, voltaram as chuvas. Foram sete meses sem uma gota sequer. Poços secaram, os poucos rios do município desapareceram, a cidade ficou sem energia elétrica. No entanto, ele anunciou que em 1964 visitaria seus parentes na Itália. Porém, acontecimentos de natureza política anteciparam sua saída de Cesário Lange. Viajou, de fato, no dia 04 de abril daquele ano. Não mais voltaria. Faleceu, vítima de uma pneumonia num hospital em Milão, depois de ter sofrido um acidente de trânsito (25 de outubro de 1964).

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

7 - Dois parênteses necessários

Abrem-se parênteses. Dois fatos relevantes marcaram profundamente a história da paróquia e a construção da nova matriz. Um externo, circunstancial, que foi a emancipação política e administrativa de Cesário Lange e outro interno, mais profundo e importante, que foi a realização do Concílio Vaticano II (1962-1965) convocado e aberto pelo Papa João XXIII (1958-1963), continuado e encerrado pelo Papa Paulo VI (1963-1978).

1 - O município

As relações entre Igreja e Estado ao longo de sua bimilenar história tiveram muitas alternâncias, desde perseguições e deliberada oposição como de cooperação e respeito. O problema foi muito discutido na Idade Média, quando havia um só Estado (o Sacro Império Romano) e uma única Igreja (a católica). Depois, com a divisão do Império em estados nacionais (as modernas nações) e divisão e cismas dentro da própria Igreja (católica, ortodoxas, protestantes, anglicana), a questão tomou um novo rumo. A razão do conflito é compreensível. Afinal, as duas instituições se movem sobre o mesmo tecido social, os fiéis de uma são os cidadãos da outra e nem sempre os objetivos são os mesmos, quando não são contrastantes. O Brasil teve o seu “calvário eclesiástico” por meio do padroado. O que parecia ser um privilégio, que funcionou razoavelmente bem na época do “Descobrimento”, ao longo do tempo, mostrou ser uma escravidão. Afinal, era o rei de Portugal, depois o imperador do Brasil, quem indicava os bispos, padres e criava paróquias, etc. Assim, ainda hoje, é lugar comum atribuir a Igreja crimes, como perseguição a bruxas, perseguição religiosa, Inquisição, a escravidão... que em muitos casos, na realidade, foram cometidos pelos soberanos, embora eclesiásticos estivessem envolvidos, pois estavam a seu serviço. Na história do Brasil, um caso exemplar desta situação foi a do Servo de Deus e Venerável Pe. Gabriel Malagrida (1).

Somente, com a Proclamação da República em 1889 e conseqüentemente, a separação entre Estado e Igreja, é que esta pode respirar de fato. Para se ter uma idéia, em 1889, havia somente uma arquidiocese (a de São Salvador na Bahia) e onze dioceses em todo o país que contava com 12 milhões de habitantes. Tão logo, a Igreja perdeu a proteção do padroado, ela promoveu uma reorganização eclesiástica profunda no Brasil, multiplicando as dioceses, criando paróquias... No entanto, o povo comum continuou confundindo as duas instituições, principalmente nas pequenas cidades ou nos lugares mais atrasados. Um exemplo eloqüente foi o conflito de Canudos.

Em Cesário Lange, desde a criação da paróquia, sempre esteve latente este conflito. A própria criação da paróquia em 1914 tinha um componente político além do religioso, o do afastamento da jurisdição eclesiástica de Tatuí, antecipando em 45 anos a emancipação política e administrativa que só aconteceu em 1959. O padre era uma autoridade respeitada, uma referência para o pequeno distrito. Vale lembrar o fato que num lugar onde a escolaridade era baixa, um padre por formação tinha dois títulos em nível universitário. Nos momentos de turbulência política, como nos anos 30 e na década de 60, foi mais sensível este conflito. Por exemplo, o motivo da saída do Pe. Manuel da Silva Leite em abril de 1933 foi a acusação que o padre era simpatizante dos "socialistas locais", da “Aliança Liberal” (getulistas), conforme o Livro do Tombo 1, 44-45. Parece que a saída de Pe. Olegário Barata em 1.º de janeiro de 1937 teve também um componente político. Como Cesário Lange era um distrito de Tatuí e o subprefeito, não raro, era visto como um "homem" da política de Tatuí, o padre que era uma espécie de autoridade informal na cidade, estava mercê das mudanças de humores políticos tatuianos.

Quando o novo município foi criado em 18 de fevereiro de 1959, desencadeou uma disputa dura entre dois grupos para ser o primeiro governo de Cesário Lange. O padre foi visto como "cabo" eleitoral do grupo minoritário. No processo eleitoral, o Pe. Antônio Dragone foi seguidamente provocado e mesmo, agredido (16 de agosto de 1959). Fato este grave que foi contornado, embora houvesse pessoas propensas a explorar o episódio. Estes fatos lamentáveis provocariam um fato inédito nos anais da paróquia. No encerramento do mês de maio de 1961, no dia 03 de junho, dentro igreja, depois de um tumulto provocado por um vereador da "situação", provavelmente embriagado, que foi caracterizado como uma profanação, o bispo ordenou ao vigário que fechasse a igreja e se transferisse definitivamente para Porangaba, de onde era também pároco.

A igreja de Cesário Lange permaneceu fechada por dois meses. Quando foi reaberta, a paróquia perdera sua autonomia e estava anexa à paróquia de Porangaba. Pe. Antônio Dragone só vinha no final de semana para a assistência religiosa.

Esta situação perdurou até a chegada do novo vigário, o Pe. Adolfo Testa, em 21 de janeiro de 1962. Com este pároco, definitivamente, o partido da "situação" tomou a dianteira junto ao novo pároco, e parece que houve mesmo uma mútua cooperação. Surge aí um novo "imbróglio", um fato um tanto obscuro. Um membro da oposição, atuante também na igreja, teria obtido a assinatura do padre num certo abaixo-assinado, algo que tinha que ver com os fatos que culminariam com os acontecimentos de 31 de março de 1964. Quando Pe. Adolfo percebeu a “manobra suspeita” em que caíra, antecipou sua partida a Itália, que aconteceu no dia 04 de abril de 1964 com a promessa de regressar no mês de agosto (no entanto, ele confidenciou ao autor dessas linhas, que morava, então, em São Paulo, que jamais voltaria).

Diante desta nova situação, Dom José Thurler, bispo coadjutor de Dom José Carlos de Aguirre, mais uma vez, anexou a paróquia de Cesário Lange à de Santo Antônio de Porangaba. Esta situação foi mantida até o dia 24 de janeiro de 1965, quando foi empossado o novo vigário, o Pe. Francisco de Assis Moraes.

Pe. Chico, como ficou conhecido, pertence àquela geração de padres ativistas e politizados, que surgiram depois do Concílio Vaticano II e que teve seu ponto mais alto no Sínodo do Celam de Medellin em 1968. Impaciente diante da morosidade administrativa e do clientelismo político, então vigente e engajado naquelas áreas que o município era mais carente, como educação, saúde e promoção social. Lutou para mudar as coisas. Tentou de início uma acomodação, com o passar do tempo, passou quase para o confronto.

Com a redemocratização do país e também o amadurecimento político do município, este conflito perdeu forças e hoje prevalece mais o diálogo, quando não a mútua cooperação à política doméstica.

2 - O Concílio

O Concílio Vaticano II foi o maior evento na história da Igreja no século XX. Ele foi convocado pelo Papa, o bem-aventurado João XXIII, em 1959. Foi aberto pelo mesmo Papa no outono de 1962. Em junho de 1963, faleceu João XXIII, sendo sucedido pelo Papa Paulo VI, que convocou a sua continuação para o outono de 1963. Em dezembro de 1965, Paulo VI encerrava o Concílio que ao todo aprovou 16 documentos: duas constituições dogmáticas ("Lumen Gentium" e "Dei Verbum"), duas constituições pastorais ("Gaudium et Spes" e "Sacrosanctum Concilium"), nove decretos e três declarações. O Concílio Vaticano II foi um concílio pastoral. Seu principal escopo foi atualizar a Igreja às sucessivas e rápidas mudanças do mundo contemporâneo.

A igreja particular de Sorocaba, a qual a paróquia de Cesário Lange pertencia, esteve bem representada nas quatro fases do Concílio em Roma. Nas três primeiras fases (1962-1963 e 1964) por Dom José Thurler, auxiliar de D. Aguirre e a última por Dom José Melhado Campos (1965), já como bispo coadjutor da Diocese.

Para quem vinha acompanhando o debate teológico desde o início do século XX, viu concretizadas as aspirações de toda a Igreja. Um documento que diz respeito ao destino da nova matriz em Cesário Lange foi a constituição "Sacrosanctum Concilium" sobre a renovação litúrgica na vida da Igreja, o que já vinha sendo feito paulatinamente nas décadas anteriores ao Concílio. Ao acompanhar a vida da paróquia, vemos algumas notícias interessantes: por exemplo, no dia 20 de janeiro de 1954, Pe. Antônio Dragone escreve sobre a nova disciplina emanada pelo Papa Pio XII sobre o jejum eucarístico e a possibilidade de celebrar a missa também à tarde. Esta “novidade”, que quebrava uma tradição milenar de só celebrar a Eucaristia pela manhã, surgira excepcionalmente com licença da Santa Sé durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) para atender as necessidades imediatas dos fiéis nesta época infeliz da história. Para o Pe. Antônio, que também era pároco em Porangaba, era uma excelente decisão, pois permitia que atendesse uma paróquia pela manhã e outra à tarde. Em 1956, ele está preocupado com o conhecimento litúrgico do povo para a participação da missa recitada, ainda que em latim. Em 1957, ele mostra entusiasmo com a renovação da liturgia da Semana Santa, que voltava aos moldes da igreja primitiva... etc.

Portanto, quando no dia 04 de dezembro de 1963, em sessão presidida pelo Papa Paulo VI, foi aprovado o primeiro documento conciliar, a constituição sobre a renovação litúrgica "Sacrosanctum Concilium"; era a consagração de um movimento irreversível. Em 06 de setembro de 1964, às 17h00, durante a festa em louvor a São Roque, estando a paróquia ainda anexada à de Porangaba, Pe. Luiz Bazzo, obedecendo as determinações do bispo e da CNBB, na Matriz de Cesário Lange, pela primeira vez, celebrava a missa dialogada em português, com um novo altar de madeira improvisado, voltado para o povo, junto à mesa da comunhão.

Começava a reforma litúrgica que nem sempre foi bem interpretada. O documento do Concílio é genérico, pouco específico, dando às conferências episcopais grande autonomia sobre determinados pontos, o que em alguns casos, permitiu que em alguns lugares, as coisas fossem além do que o Concílio previu e em outros, que ficassem aquém.

A nova matriz de Cesário Lange que fora concebida como uma igreja tradicional tridentina, arquitetonicamente em forma de uma cruz latina, ao ser terminada, sofrerá influência de algumas idéias reformistas conciliares. Desta forma, ganhará um acabamento jamais previsto por Pe. Antônio que a iniciara antes do Concílio.

Também a própria vida paroquial sofrerá grande transformação. A paróquia que até então era centralizada na figura do padre, nas irmandades e associações como uma espécie de coluna vertebral, será alterada. O Concílio resgata uma imagem antiga da Igreja, a de “o Povo de Deus”, da Igreja comunhão, de uma Igreja ministerial, onde todos os batizados têm mesma dignidade e missão. Ainda hoje essas determinações não foram bem assimiladas.

Por exemplo, seguindo uma determinação do Concílio, em 17 de junho de 1967, o Papa Paulo VI restaurava o "diaconato permanente" através do Motu-Próprio "Sacrum Diaconatus Ordinem" abrindo a possibilidade de homens casados serem ordenados para este antigo ministério, que desde o século VI, ficara restrito mais como uma passagem necessária para o sacerdócio. De Cesário Lange, apresentaram-se dois candidatos: Joaquim Vieira da Silva e José Vieira de Miranda. Só o último participou do curso de preparação de diaconato, mas ele não foi ordenado junto com os primeiros diáconos da Diocese de Sorocaba o que aconteceu em 1969. Ele só será ordenado diácono em 06 de setembro de 1992 durante o paroquiato de Pe. Paulo César Ferreira.

Outra “novidade”, em 1.º novembro de 1975, Dom José Melhado concedia a provisão aos primeiros "ministros extraordinários da Sagrada Comunhão” a Honório Roque Torres, Joaquim Vieira da Silva e Lázaro Corrêa Sampaio. Pela primeira vez, depois de tantos séculos, ministros não ordenados tinham acesso ao serviço de distribuir a Eucaristia. No dia 16 de dezembro de 1979, diante da experiência positiva dos ministros extraordinários, aumenta o seu número. Entre eles, uma grande novidade, oito mulheres pela primeira vez são provisionadas para este ministério.

Outras "novidades" foram trazidas pelo Concílio. Teremos, então, um tempo de alguma convulsão, até se chegar a uma certa acomodação eclesial, mais sensível no longo pontificado do Papa João Paulo II. Hoje, a igreja matriz já não centraliza tudo. É um ponto de referência importante. As comunidades se organizam em pequenos núcleos e capelas. Estas ganharam notável importância e autonomia. Quase tudo que há na Matriz, várias delas também têm: os seus próprios ministros (ainda que extraordinários, portanto não-ordenados), sacramentos, algumas, até mesmo, sacrários (que é um privilégio das igrejas matrizes), a Palavra de Deus, a catequese. Enfim, para elas convergem as aspirações da comunidade. Fecham-se parênteses.

1) Padre Miguel Malagrida (1689-1761), popular missionário do Nordeste brasileiro pertencente à Companhia de Jesus, nasceu na Itália. Ordenado padre, veio ao Brasil em 1721, onde começou a percorrer a pé, pregando o Evangelho, administrando sacramentos, fundando escolas, colégios, e seminários (à revelia da Corte portuguesa, já que ele como jesuíta estava sob obediência direta do Papa e não do Rei) e acima de tudo protegendo indígenas, que provocou as iras dos poderosos da época, pois acima de tudo, além da fama de taumaturgo, ele gozava da estima da Rainha. Padre Malagrida foi preso pelo Marquês de Pombal que através do tribunal da "Santa Inquisição" condenou-o à morte como "herege". Ele foi estrangulado sobre um palanque e em seguida queimado no dia 20 de setembro de 1761. Quando ele morreu, já não havia mais jesuítas no Brasil, a não ser 180 nas masmorras pombalinas em Portugal. Mais de 1.000 deles tinham sido exilados na ilha de Córsega. No Brasil, centenas de escolas e colégios foram fechados. Tudo isso graças ao “Iluminismo” do ministro do rei D. José. Quando a notícia chegou a Roma, o Papa Clemente XIII exclamou: "Hoje a Igreja de Cristo tem mais um mártir!". Em 1991, em São Luís (MA) o Papa João Paulo II lhe fez um elogio público.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

6 - Uma nova Matriz

Em 1949, finalmente, foi criada uma comissão por Dom José Carlos de Aguirre, tendo como presidente Mário Chagas para levantar fundos para aumentar a igreja matriz. No dia 31 de dezembro de 1949, com a transferência de Pe. Ambrósio Marks para Porangaba, a paróquia de Cesário Lange tinha sido anexada à de Tatuí. O Pe. Jorge Mouzizzano, coadjutor de mons. Murari, pároco de Tatuí, passou a assistir a paróquia de Cesário Lange, o que fez desde o dia 15 de dezembro de 1949 até 18 de fevereiro de 1951, quando foi nomeado professor de música para o seminário São Carlos Borromeu em Sorocaba. Para substitui-lo veio a Cesário Lange, outro coadjutor de mons. Murari, Padre Antônio Dragone, que passou a atender a paróquia de Cesário Lange desde então.

A partir de 24 de dezembro de 1951, ele se torna, definitivamente, pároco de Cesário Lange. Pe. Antônio empenhou-se muito em seu novo ministério, restaurou a Cruzada Eucarística e a Obra das Vocações. Um de seus pontos altos de seu paroquiato foi a visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima a Cesário Lange entre os dias 25 e 26 de agosto de 1953.

Mas a marca mais importante foi sua atividade em mudar a face da paróquia. Em 20 de abril de 1952, Padre Antônio adquiriu um serviço de alto falantes para a matriz e começou a se empenhar para aumentar a dimensão da velha igreja. Em 14 de março de 1952 tendo em caixa a importância de Cr$ 100.400,00 resolveu começar as obras. Contratou-se o engenheiro José Victor Vieira Pedroso de Tatuí que desenhou a nova planta. Decidiu-se aumentar em seu comprimento em 22 metros e alargá-la em 3 metros de cada lado.

Quanto ao seu alargamento, surgiu aí um problema quanto ao lado direito da igreja que margeava a Rua Padre Gravina. O prefeito de Tatuí, Alberto Santos, doou 4 metros da rua para a ampliação da igreja, que de certa maneira compensava a Paróquia Santa Cruz do “confisco” da praça defronte à Igreja. Entre os dias 13 a 16 de maio de 1952, Dom José Carlos de Aguirre realizou a sua 8.ª visita pastoral à paróquia de Santa Cruz e na tarde do dia 15 de maio abençoou a pedra fundamental da nova igreja. Na manhã seguinte, foi lançada a pedra fundamental na presença do bispo, do pároco, do Padre Murari (vigário de Tatuí), do prefeito de Tatuí, do sub-prefeito, do engenheiro e demais pessoas pelo pedreiro José Benedito Molitor (Zuza). O local onde foi lançada a pedra fundamental fica na sacristia à direita do presbitério da igreja atual.

No entanto, uma dificuldade inesperada surgiu. A Câmara Municipal de Tatuí vetou a doação feita pelo prefeito Alberto Santos. Quase dois anos de negociações se seguiram até que em 11 de maio de 1955, finalmente, a escritura da doação foi lavrada na presença do mesmo prefeito e do Padre Antônio Dragone, como procurador do bispo. Entretanto, uma nova comissão para a ampliação da nova igreja fora criada tendo como presidente Roque Rosa (Mário Chagas falecera em 1954).

Tendo conseguido a regularização do terreno, começaram os trabalhos. De início se pensava em aproveitar a nave antiga da igreja alargando as laterais e aumentando em sua profundidade e na altura de seu teto. Mas verificou-se, logo, tal aproveitamento totalmente inadequado. Praticamente a igreja teve que ser demolida para a construção da nova. Padre Antônio anotava em 1956, que os trabalhos não visavam tanto a arte, mas a utilidade do espaço. Pode-se dizer que, por motivo de economia, a nova igreja foi construída sobre os escombros da antiga, pois tudo foi reaproveitado, desde dos tijolos até mesmo o reboco era peneirado para ser reaproveitado. Por exemplo, o material que não serviu, foi aproveitado para a construção de um pequeno barracão com 11 metros de frente e 15 metros de fundo ao lado da casa paroquial para que se usasse para festas paroquiais e como espaço para aulas de catecismo. Esse barracão foi construído no lugar onde antigamente funcionava à assim chamada "fábrica da igreja", que era o nome que se dava à secretaria da paróquia. Mais tarde, no tempo do Pe. Adolfo Testa, ele se tornou o “Cine São Roque” e hoje é sala de catequese e secretaria da igreja.

Em 1956, Padre Antônio Dragone tornou-se também pároco de Porangaba, mas as obras continuaram até 1958 quando foram interrompidas por absoluta falta de recursos, apesar de estarem bastante adiantadas com todas as paredes erguidas e a igreja inteiramente coberta.

No entanto, um fato novo repercutiu em toda a cidade e que de certa maneira mudou a história da construção da nova matriz. Em 29 de dezembro de 1958 foi anunciada a emancipação política de Cesário Lange que oficialmente foi proclamada em 18 de fevereiro de 1959, mas só em 1.º de janeiro de 1960 tomavam posse o primeiro prefeito e a primeira Câmara Municipal, depois de uma acirrada, às vezes, desleal disputa eleitoral, que mostra a imaturidade política do novo município, que aconteceu em outubro de 1959.

Os dois candidatos a prefeito foram, respectivamente, Roque Rosa e Aristheo Vasconcelos Leite. Venceu o último por uma diferença de 254 votos num universo de 1006 eleitores. Como Roque Rosa fosse o presidente da comissão das obras da igreja, o vigário foi supostamente taxado como simpatizante de sua candidatura, ao menos por alguns seguidores do candidato vencedor. Nos documentos da igreja não há menor alusão a tal possibilidade ou mesmo menção a algum dos candidatos. Parece mesmo, que o padre era totalmente apolítico e estava unicamente preocupado com a vida religiosa de seu povo e da construção da nova matriz.

Entre as várias provocações sofridas pelo pároco devido à nova situação política, dois incidentes lamentáveis devem ser citados: a agressão sofrida pelo padre durante a festa de São Roque no dia 16 de agosto de 1959, no auge da campanha política para as eleições municipais; e a invasão da igreja por parte de um vereador, líder do prefeito na Câmara Municipal, no dia 03 de junho de 1961, quando se celebrava o final do mês mariano.

Este último incidente levou ao afastamento definitivo do padre de Cesário Lange e, portanto da igreja nova pela qual tanto trabalhara. Outros haveriam de continuá-la e terminá-la, talvez, de maneira bem diferente como Pe. Antônio Dragone a havia concebido, embora um acontecimento mais profundo estivesse acontecendo, o Concílio Vaticano II (1962-1965), convocado pelo Papa João XXIII (1958-1963), que traria mudanças profundas na Igreja, inclusive litúrgicas, portanto, alterando de certa maneira a configuração dos edifícios eclesiásticos.

5 - A velha Matriz revisitada

O autor destas linhas (Fernando Antônio Batista de Almeida) entrou pela primeira vez na velha matriz na manhã de um domingo, dia 06 de abril de 1952, levado por seus avós paternos: Durvalino Batista de Almeida (Nhosinho Batista), sua esposa Francisca Rodrigues de Almeida e por sua tia: Elza Batista de Almeida. Tinha, então, somente oito dias de idade, e estava sendo levado à pia batismal, onde o Pe. Antônio Dragone o marcou para sempre como "filho adotivo de Deus" e membro da Igreja de Jesus Cristo ao batizá-lo. Era uma manhã de um domingo importante. Domingo de Ramos! Mais uma vez, a paróquia se preparava para celebrar mais uma Semana Santa, isto é, a morte e ressurreição do Senhor. Portanto, ele convida o leitor destas notas a adentrar naquela manhã de domingo e revisitar a velha igreja com o auxílio da memória alheia.

Ao que parece, quando a paróquia foi criada, a tal “capela-mor” de Santa Cruz reformada por José Mendes de Almeida e Cesário Lange Adrien não teria mais que uns 253 metros quadrados. Durante o paroquiato de Pe. Gravina, construi-se o corpo da igreja, aumentando uns 6 metros em sua profundidade, ficando parte da "capela-mor" como presbitério com duas pequenas sacristias laterais, cada uma das últimas com uns 13 metros quadrados. O presbitério, propriamente dito, era pequeno com uns 25 metros quadrados. O altar-mor era de madeira e colocado junto à parede do fundo do mesmo, como era costume antes da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II.

Havia seis altos castiçais sobre o altar, no centro um sacrário também de madeira, sobre ele havia um crucifixo. Em cada lado do altar havia duas colunas, à esquerda com a imagem de Santa Luzia e à direita com a imagem do Senhor Bom Jesus (nos tempos do Pe. Herman von Wolff, eram dois anjos com tochas).

Nas paredes laterais do presbitério havia duas pequenas portas, protegidas com cortinas, que davam acesso às sacristias. À parede esquerda do presbitério ficava pendurada uma luminária a óleo suspenso com correntes, tudo em metal dourado, para indicar a presença do Santíssimo Sacramento.

A nave da igreja teria uns 25 metros de comprimento por 11 metros de largura. No centro da fachada da matriz havia um campanário. Teria a velha matriz, então, uns 324 metros quadrados construídos, que ao longo dos anos foi sendo reformada, ganhando as características, as quais os antigos ainda se lembram e foram conservadas em algumas velhas fotografias.

Pode-se tentar relacionar de maneira cronológica tais melhoramentos. Assim, o Padre cônego José Messias de Aquino (1927-1929), que substituiu Pe. Gravina, forrou a igreja e revestiu suas paredes internas. Construiu, também, dois altares laterais, justamente nos ângulos ao lado do presbitério, um consagrado ao Senhor Bom Jesus e outro a Santa Teresinha, que tinha sido elevada às honras dos altares pelo Papa de então, Pio XI. Mais tarde haveria mudanças.

Nos tempos de Pe. Olegário Barata (1933-1937), foram acrescentados outros dois altares, junto às paredes laterais da igreja e alterados os oragos dos respectivos altares. Assim, no altar lateral à esquerda do altar-mor ficou dedicado ao Sagrado Coração de Jesus e no da direita, a Nossa Senhora do Rosário. Ao longo das paredes laterais, no lado direito, ficava o altar da Imaculada Conceição, tendo ao seu lado um confessionário. Ao longo da parede, à esquerda do altar-mor, ficou o altar de Santa Teresinha e de São Roque, ao lado da porta lateral que dava acesso à rua à esquerda da igreja. Ao lado desta porta lateral havia outro confessionário, já próximo à pia batismal, que ficava justamente à esquerda de quem entrava pela porta principal. Junto à pia batismal havia uma escada em caracol que dava acesso a uma espécie de mezanino, o coro da igreja, onde estavam o "harmonium" e os cantores nas grandes solenidades e na missa paroquial dos domingos.

O coral era de boa qualidade. Em sua terceira visita pastoral entre os dias 04 a 08 de novembro de 1933, nos tempos do Pe. Barata, Dom Aguirre faz um eloqüente elogio ao coral e ficou visivelmente comovido ao ouvir o cantar do hino "Ecce Sacerdos Magnus".

Também ao lado esquerdo do altar-mor, próximo ao altar do Sagrado Coração de Jesus, havia um púlpito, guarnecido de uma escadinha, onde pregava o sacerdote nas missas paroquiais das 10h00 da manhã aos domingos e dias de festa. Separando o presbitério, de teto mais baixo, do resto do corpo da igreja (a única nave) havia a mesa da comunhão com uns cinco metros de comprimento, separada no meio por uma portinhola que permitia a passagem do sacerdote com seus acólitos.

Na nave da igreja havia duas fileiras de bancos, contanto cada fila com quinze bancos. Na igreja, caberiam umas 180 pessoas sentadas. Pe. Barata contratou de São Paulo o mestre Mário Tomasi que pintou as paredes do presbitério. Em 10 de julho de 1933, o mesmo padre melhora a iluminação da igreja com lâmpadas "Coliman" (lâmpadas a gás). Aliás, o problema da iluminação era crítico, pois a igreja tinha poucas janelas e muito altas. Eram quatro janelas na frente, sendo duas ao lado da porta principal, com duas pequenas janelas abaixo da torre. Para iluminar a nave da igreja, havia três janelas em cada parede lateral e a pequena porta na parede lateral esquerda.

Durante sua quarta visita pastoral à paróquia entre os dias 20 e 23 de julho de 1936, vindo de Porangaba, Dom José Carlos de Aguirre abençoou o dínamo do gerador de luz elétrica instalado por Aristides Vasconcellos Neto (1903-1982). Assim a igreja recebia também a luz elétrica (em 1945, Pe. Teotônio dos Reis Cunha, substituindo o vigário Pe. Belotti, agradecia o "empresário" da eletricidade, Aristides Vasconcelos Neto, pois ele deixava de cobrar o serviço de luz da igreja). Substituindo Pe. Barata, veio para Cesário Lange o Pe. Mariano Duarte Peralta (janeiro a novembro de 1937) que em seu curto paroquiato fez notáveis reformas na igreja. Adquiriu-se um outro altar-mor, que pertencia à igreja matriz de Tatuí, obra de um marceneiro chamado Palumbo. Domiciano Rodrigues Paulino e Francisco de Moura se cotizaram para adquirirem o novo altar que custou 650$000. A imagem do Senhor Morto, adquirido em 1927, e que estava debaixo do antigo altar-mor, foi colocado debaixo do altar lateral de Nossa Senhora do Rosário, que tinha, ao lado, a imagem de Nossa Senhora das Dores numa redoma. Francisco Bonifácio de Arruda doou um belo vitral para a janelinha que ficava em cima do altar-mor no presbitério. Em maio de 1937, um novo "harmonium" foi adquirido e o velho, do tempo de Pe. Gravina, que estava em condições deploráveis, foi vendido. Também foi trocado o telhado, reformado o forro, que foi pintado por um pintor anônimo de São Paulo. Um grande lustre de gás acetileno foi adaptado para a luz elétrica no meio da igreja.

Este sacerdote tomou uma iniciativa digna de nota ao entregar alguns aposentos da casa paroquial para que os jovens pudessem jogar e dedicarem a leituras. A iniciativa em sua intenção era boa para combater o ócio e não ter o que fazer dos jovens. Demonstrou-se, no entanto, ser inadequado, o que acarretou o seu fechamento em 1940. Pe. Mariano, em 15 de dezembro de 1937, seria internado na Santa Casa de Tatuí, onde permaneceu internado por 12 dias, gravemente enfermo. Em seu lugar como pároco veio um monge cisterciense que não pertencia ao clero da diocese de Sorocaba, Pe. Raimundo Hillbrand, que continuou com novos melhoramentos na igreja. Em 1938, o padre instala seis lâmpadas para iluminar o "belo" teto da igreja. Reveste, também, as paredes externas da mesma, pintando-as. Adquire novas venezianas para as janelas da torre da igreja.

Em sua quarta visita pastoral, em março de 1942, Dom José Carlos de Aguirre reconhece que a igreja é pequena e sugere que seu corpo fosse aumentado, recuando o presbitério para o fundo, construindo novas sacristias. Terreno para tanto havia, embora com o passar do tempo, o terreno da igreja vinha sendo encolhido.

Um fato pitoresco que vale registrar foi o "confisco" do pátio da igreja em março de 1938 (a atual Praça Pe. Adolfo Testa), que fora doado à capelinha de Santa Cruz no fim do século por Severino Alves de Oliveira com uma área de 7.744 metros quadrados e que foi apossado pela "Câmara", apoiada pela Prefeitura de Tatuí, não obstante os protestos do pároco. Na ocasião, Domiciano Rodrigues Paulino e seu filho, Cesário Rodrigues Paulino, doaram uma boa quantidade de tijolos para que a paróquia protegesse o pouco que lhe restava de seu patrimônio, "antes que outros se apropriem" do resto, como registrava o amargurado vigário, que após relacionar os documentos que tinha e testemunhos, como um jornal de Tatuí de 1926 que noticiava o tal pátio como terreno paroquial, acrescentava em seguida, não com certa ironia: "noli confidere in homine".

No entanto, estava plantada a idéia que algo teria que ser feito. A bela igreja matriz estava com seus dias contados. Os seus curtos dias seriam ainda mais de dez anos até que se juntassem recursos e vontade para construir uma igreja maior.

Por dever de justiça, deve-se fazer um reparo em relação daqueles que lamentam e não se conformam com a demolição da velha matriz para se construir a atual. Respeitando as devidas proporções é a mesma acusação àquela que se faz sobre a demolição da antiga Basílica de São Pedro na colina do Vaticano em Roma, construída pelo imperador Constantino no século IV. Atribuiu-se à "megalomania" do Papa Júlio II (1503-1513) ou a fúria iconoclasta para tudo que era antigo do arquiteto Bramante, isto de acordo, com as simpatias de quem critica. Na verdade, a antiga basílica estava em estado tão deplorável, que não mais suportava reformas e o lugar era único, o túmulo do apóstolo Pedro.

Em Cesário Lange, o motivo parece ter sido bem mais trivial. Havia mesmo um terreno excelente para uma nova igreja, próximo ao campo de futebol, defronte ao cemitério e onde em 1952 se construiu a atual escola “Prof. Francisco Mendes de Almeida”. Foi simplesmente a absoluta falta de recursos para adquirir outro terreno e comprar material novo para construir a igreja nova que levou a decisão de ampliar a antiga, conservando o que já havia. Realmente, tentou-se aproveitar tudo o que desse, das paredes existentes até mesmo o material descartado, o que de fato aconteceu. Só como se verá adiante, as coisas não saíram como era esperado e o belo prédio da antiga matriz se perdeu.

4 - Frei Nuno recorda

No dia 20 de dezembro de 1998, na igreja matriz de Santa Cruz em Cesário Lange, na presença do pároco de então, Pe. Altair Alves de Lima, frei Nuno Alves Corrêa, O.Carm., celebrou uma Missa em ação de graças a Deus pelos 50.º ano de sua ordenação sacerdotal.

Cesário Alves Corrêa, este é seu nome de batismo, nasceu em Cesário Lange no dia 07 de novembro de 1924, filho de Antônio Alves Corrêa (chamado Antônio Lourenço), e Ana das Dores Fiusa (também chamada Aninha Tavares). Ingressou ainda menino, em 13 de fevereiro de 1936, no Seminário Nossa Senhora do Carmo dos padres carmelitas em Itu, onde permaneceu até dezembro de 1942. Em 1943, fez o noviciado na Ordem do Carmo em Mogi das Cruzes. Fez, entre os anos de 1943 a 1948, os cursos de filosofia e teologia na Igreja do Carmo na Bela Vista em São Paulo. Foi ordenado sacerdote em 08 de dezembro de 1948 pelo arcebispo de São Paulo cardeal Dom Carlos Carmelo Vasconcellos Motta. No ano seguinte, 1949, terminou o seu curso de teologia.

Nestes mais de cinqüenta anos como carmelita e sacerdote exerceu muitas atividades no Brasil e também no exterior. Trabalhou em Salvador, BA, em Maroim, SE, nos anos de 1958 e 1959 foi o diretor internacional da Ordem Terceira do Carmo em Fátima, Portugal. Foi pároco da paróquia do Carmo em Santos, Ponta da Praia de 1960 a 1968. Foi diretor do Colégio do Carmo em Santos de 1968 a 1975. De 1978 a 1986 foi o Superior da Província Carmelitana de Santo Elias, residindo em São Paulo. Hoje, reside no Convento da Irmandade Nossa Senhora do Carmo no Rio de Janeiro, onde é Delegado Provincial das Ordens Terceiras, cargo que ocupa desde 1987.
Nota: Frei Nuno Alves Corrêa faleceu no dia 03 de julho de 2008 no Rio de Janeiro.

(Frei Nuno toma a palavra)

No dia 20 de dezembro de 1948, à tardinha, fui recebido na entrada desta cidade e ao som da Banda de Música do Teté (1) cheguei à porta da antiga Matriz onde fui saudado por um nosso conterrâneo o Sr. Antônio Antunes. Momentos antes, o povo recebera o Senhor Bispo Diocesano, Dom José Carlos de Aguirre, que também viera para proceder a uma visita Pastoral, mas ele, delicadamente se escondeu para que o povo desse atenção à minha pessoa.

No dia seguinte, 21 de dezembro, por volta de 9h00 celebrei a Primeira Missa Solene, na antiga Matriz que deu lugar a esta igreja. Recordo-me como se fosse hoje: foi Mestre de Cerimônia o Padre Ambrósio Pabon (2); serviram de diácono, se não me engano, o Monsenhor Castanho (3), hoje bispo de Jundiaí e na época Reitor do Seminário de Sorocaba e como sub-diácono o meu colega Frei Aloísio da Costa Neves, já falecido; foi pregador o Monsenhor Silvestre Murari e numa atitude muito gentil, Dom José Carlos de Aguirre pediu-me para celebrar a primeira missa nesse dia de sua Visita Pastoral.

A missa foi cantada pelo coral do Joaquim da Silva Ribeiro que sempre foi incansável na animação dos cânticos religiosos na Paróquia. Após a missa, houve um almoço na antiga casa paroquial e à tarde, uma tourada, pois o meu padrinho de Crisma, Juvenal Xavier era um apaixonado desse esporte de lazer. O Sr. Cesarinho da Silva Campos e o Sr. Juvenal Xavier (4), respectivamente meus padrinhos de Batismo e Crisma, foram os paraninfos da primeira missa.
O Pe. Ambrósio teve a idéia de organizar uma comissão responsável pela preparação e realização dessa festa de minha Ordenação. Faziam parte da Comissão os Senhores Mário Chagas, Anísio Tavares, Antônio Ribeiro da Silva e o Batista Ribeiro, todos já falecidos; que Deus os tenha na glória. Foi uma festa linda que até agora me dá muitas saudades.

Iniciei em 1950 o meu Ministério Sacerdotal, primeiro no Nordeste, depois no Rio de Janeiro, em Fátima (Portugal), em Santos, em São Paulo e agora de novo no Rio de Janeiro, sempre cumprindo a Missão de Sacerdote em vários campos de atividade pastoral e até exercendo cargos de responsabilidade conferidos pela Ordem do Carmo. Enquanto viviam aqui minha mãe e irmã, Cesário Lange foi para mim sempre o recanto preferido para as minhas férias anuais e visitas freqüentes; a gente nunca se esquece nem da terra em que se nasceu nem de um povo que é tão bom e tão acolhedor.

Nestes cinqüenta anos de sacerdote eu tive a alegria de ver crescer Cesário Lange, acompanhando o seu desenvolvimento, lento, mas determinado e se tornando uma cidadezinha preferida para seus fins de semana de lazer de muitos paulistanos.

Da pequenina igreja que havia em 1948, surgiu esta igreja espaçosa e confortável, graças à presença laboriosa de seu inesquecível pároco Antônio Dragone. Ao Padre Olegário da Silva Barata, da década de trinta, sucederam-se diversos párocos: Monsenhor Teotônio, um dos párocos de Tatuí ainda hoje, Padre Ambrósio, Padre Antônio Dragone, Padre Testa, Padre Chico, Cônego Hilário e agora o bom Padre Altair. Todos eles deixaram a marca de seu zelo pastoral, dando vida à Comunidade Eclesial da qual vocês fazem parte.

A paróquia de Cesário Lange se não é das mais importantes, antes da Diocese de Botucatu, depois da Arquidiocese de Sorocaba e agora da diocese de Itapetininga, ela é, no entanto, uma paróquia muito viva e atuante. A esta paróquia, na medida do possível, durante a minha estadia de férias ou visitas, procurei sempre lançar uma sementinha do Evangelho e procurei despertar vocês para a devoção e o amor a Nossa Senhora do Carmo e seu Santo Escapulário, tanto assim que, pensando no futuro, consegui do Padre Chico a indicação do Bairro do Cruzeiro para sediar a Capela de Nossa Senhora do Carmo que aqui está testemunhando a origem e a passagem de um Frade Carmelita nesta cidade. E o bom povo do Cruzeiro com muito amor e sacrifício aqui construiu a Casa de Maria, Nossa Senhora do Carmo.

A longa distância do Rio de Janeiro, onde estou residindo há mais de dez anos, não me permite mais a freqüência de minhas visitas, mas confesso sinceramente que a lembrança de Cesário Lange e a de vocês, como bom povo conterrâneo, está muito viva em meu coração sacerdotal e nas minhas orações diárias. Eu os sempre recomendo à proteção de Deus e ao amparo de Nossa Senhora.

Terminando esta saudação, dando graças a Deus pelas minhas Bodas de Ouro de Sacerdócio que celebramos neste santo sacrifício da Missa, quero manifestar a vocês todos, sem distinção de pessoa alguma, a minha profunda gratidão por todas as provas de carinho e amor fraterno que de vocês recebi, durante toda a minha vida, desde o meu nascimento, a 07 de novembro de 1924 até o dia de hoje e tenho certeza de que serei alvo desta mesma estima até o fim de minha vida.

Minhas últimas palavras são de fraterna gratidão ao Padre Altair e a todos os fiéis paroquianos que se empenharam na realização desta festa, que não é minha, mas nossa, de vocês, aqui presentes, rezando comigo esta Missa de Ação de Graças. Esta é a mensagem que ditou o meu coração. Muito obrigado. (Frei Nuno Alves Corrêa)

Cesário Lange, 20 de dezembro de 1.998.

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1) Banda do Teté (Aristheo Vasconcelos Leite). Trata-se da “Corporação Musical Carlos Gomes”, fundada por Teté em 1946.

2) Frei Nuno se engana. Não se trata do Pe. Pabón (Pe. José Antônio Pabón), que passou por aqui em 1945, mas certamente do Pe. Ambrósio Marks, pároco em Cesário Lange de 1942 a 1949.

3) Frei Nuno é traído, certamente, por sua memória. Mons. Castanho, que serviu como diácono em sua primeira missa em Cesário Lange (aliás, ele não tem certeza) não é o atual bispo emérito de Jundiaí, Dom Amauri Castanho, nascido em 1927, ordenado sacerdote em 1951 e bispo em 1976. Dom Amauri foi bispo auxiliar de Sorocaba de 1976-1979, foi transferido para Valença, depois para Jundiaí. Também não se trata de Dom José Carlos Castanho de Almeida, nascido em Guareí em 1930, ordenado sacerdote em 1953 e bispo em 1982, atualmente, bispo emérito de Araçatuba. O mons. Castanho, a quem se refere frei Nuno, pode ser o ilustre Pe. Luiz Castanho de Almeida (embora na época, ele já estivesse doente, é difícil imaginá-lo viajando com o bispo), nascido em Guareí em 06-11-1904, ordenado sacerdote por Dom Aguirre em 08-05-1927, famoso historiador, conhecido pelo pseudônimo literário de Aloísio de Almeida. Mons. Castanho deixou uma obra monumental sobre a História paulista e de Sorocaba. Faleceu em Sorocaba em 28-02-1981. Na opinião deste autor, o sacerdote que serviu como diácono pode ter sido tanto o Pe. Sérvulo de Madureira como o Pe. Vitório Maggioni, que na ocasião acompanhavam o bispo em sua visita pastoral.

4) Juvenal Xavier era o apelido de Juvenal de Arruda Campos (1888-1977), ele é o padrinho de crisma de Frei Nuno. Cesarinho, falecido em 1958, é Cesário da Silva de Campos, filho de Francisco Ribeiro da Silva e Porfíria Maria da Conceição. Ele é o padrinho de batismo de Frei Nuno.




quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

3 - Depois de Padre Pedro Gravina

Entretanto, em 31 de dezembro de 1924, instalava-se a nova diocese de Sorocaba, criada pelo Papa Pio XI em 04 de julho de mesmo ano e neste mesmo dia indicava o Pe. José Carlos de Aguirre de Bragança Paulista como seu primeiro bispo. A nova diocese desmembrava territórios das dioceses de São Paulo (agora, então, elevada à categoria de arquidiocese) e de Botucatu. A diocese de Sorocaba seria formada das seguintes paróquias: Angatuba, Boituva, Bom Sucesso (Paranapanema), Buri, Campo Largo (Araçoiba da Serra), Capão Bonito, Cerquilho, Cesário Lange, Conchas, Faxina (Itapeva), Guareí, Itaberá, Itaí, Itapetininga, Itaporanga, Itararé, Laranjal Paulista, Pereiras, Piedade, Pilar, Porangaba, Ribeirão Vermelho (Riversul), São Miguel Arcanjo, Sarapuí, Sorocaba (com duas paróquias: Catedral e Votorantim), Tatuí e Tietê. Assim, a Paróquia Santa Cruz de Cesário Lange deixava de pertencer à igreja particular de Botucatu para se agregar à nova diocese de Sorocaba.

No dia 31 de março de 1925, o novo bispo nomeou o Pe. Annibal Gravina (1), sobrinho do Pe. Gravina, como seu vigário coadjutor e entre os dias 07 a 08 de junho de 1925, Dom Aguirre fez sua primeira visita pastoral a Cesário Lange. Uma comissão de Cesário Lange foi até Tatuí para trazê-lo em seus "ótimos automóveis". A impressão da paróquia ao bispo foi muito favorável. Ele celebrava a Santa Missa às 7h30 da manhã, em seguida havia a pregação por algum de seus padres missionários, que o acompanhavam. Às 12h00 e 14h00, havia crismas. À tarde, havia a recitação do terço em honra à Virgem Maria com a bênção do Santíssimo Sacramento. Dom Aguirre crismou 877 pessoas, entre crianças, jovens e adultos e legitimou três uniões concubinas. Encorajou o sacerdote a prosseguir as obras para reformar e aumentar o corpo da igreja matriz, que era muito pequena, em seguida seguiu em direção a Porangaba.

Em 28 de julho de 1927, Padre Pedro Gravina deixou o cuidado pastoral da Paróquia Santa Cruz em Cesário Lange para assumir a de São José em Cerquilho. Para substituí-lo, o bispo diocesano, Dom José Carlos de Aguirre, enviou Padre cônego José Messias de Aquino (1927-1929). Seria o primeiro a substituir Padre Gravina. Nos anos seguintes viriam outros. Alguns deles, apenas como temporários ou mesmo como provisionados para determinada ocasião. Se Padre Gravina ficou em Cesário Lange doze anos como pároco, a média de permanência de seus sucessores seria menor. Os que ficaram mais tempo foram: Padre Ambrósio Marks (1942-1949) sete anos e Padre Antônio Dragone (1950-1961) onze anos, ambos, porém, menos que os doze anos do Padre Gravina. O sacerdote que ultrapassará a duração de Padre Gravina como pároco será Padre Francisco de Assis Moraes (1965-1982), permanecendo nesta função por mais de dezessete anos. Neste espaço de tempo, a paróquia Santa Cruz organizou-se como era praxe ao estilo trindentino em volta de irmandades e associações, tendo seus pontos altos nas grandes festas como Natal, Páscoa e festa dos padroeiros. Além de Santa Cruz, a festa de São Roque ganhava projeção, sem dúvida por influência, da área rural próxima a Laranjal e Cerquilho (norte e nordeste do distrito de Cesário Lange), onde se fixaram várias famílias de origem italiana.

Também, neste período, começaram surgir as primeiras capelas rurais. A primeira, ao que parece, foi a São Roque na Fazenda Velha quando o Pe. Olegário Barata era o pároco (1933-1937). No entanto, havia outras comunidades rurais assistidas como a do Rio da Várzea, a do Bairro dos Pedros, a do Bairro das Perobas. Em 1939, o pároco recebe permissão de Dom Aguirre para se utilizar um altar portátil para celebrações da Missa em “lugares decentes”, que estivessem pelo menos três quilômetros de distância da Matriz.

As festas da paróquia, sem dúvida alguma, eram o grande acontecimento no distrito de Cesário Lange. Dentre os paroquianos, geralmente membros de uma das irmandades, eram nomeados os festeiros que organizavam a festa. A parte religiosa consistia em missas matutinas às 7h00 e às 10h00, esta última era a missa paroquial, por excelência: solene, cantada e com sermão. Na parte vespertina: novenas, procissões, pregações, bênçãos do Santíssimo Sacramento. No dia da festa, ela se encerrava com a alvorada tocada por uma banda e uma imponente procissão com andores dos padroeiros, vindos da casa dos festeiros, até à igreja matriz onde se celebrava uma solene "missa cantada". Participavam dela, as bandas de música acompanhando procissões. Houve um tempo, nos anos trinta, que Cesário Lange chegou ter duas bandas: a Santa Teresinha e a Santa Cruz, que desapareceram nos anos da II Guerra Mundial. Em 1946 surgiria a "Corporação Carlos Gomes" fundada por Aristheo Vasconcelos Leite. Havia nestas festas paroquiais animados cururus, touradas e, é claro, os inesquecíveis leilões de lenha em benefício da paróquia (naquele tempo, todos os fogões, mesmo na cidade, eram à lenha), tudo animado por muita queima de fogos e rojões e doces para a criançada.

Para se ter uma idéia do estado da Paróquia Santa Cruz, por volta de 1934, num levantamento diocesano, o pároco de então, o Padre Olegário Barata (1933-1937), informava que a paróquia contava com uma área de 251 km quadrados (uma curiosidade, hoje o município só tem 207 km quadrados), com uma população de 4.127 pessoas, portanto, os mesmos habitantes da época do Pe. Gravina, contando inclusive com uma área rural muito povoada, então, já que toda a economia do município era agrícola, com ênfase no café, no algodão e na pecuária. A área urbana tinha cerca de 200 casas e havia 14 assinantes do serviço telefônico, sendo telefonista a senhorita Ignez de Almeida. O primeiro telefone em Cesário Lange tinha sido instalado em 1911. Os juizes de Paz eram João Quirino Torres e Luiz de Moura, escrivão João Mendes de Almeida, um sub-delegado: Francisco Pires da Fonseca, um sub-prefeito: Dácio Vieira de Camargo e um recebedor municipal: Antônio Antunes da Silva (o Tonho da banda).

Como seria a geografia da vila de Cesário Lange da Paróquia Santa Cruz do Pe. Barata em meados dos anos 30? Imagine o leitor um hexágono, formado por três quadrados em um "L" invertido. Sendo que cada um desses três quadrados, formados por quatro quarteirões. Assim era Cesário Lange, uma vila com 12 quarteirões. Para entender os confins do povoado, consideremos como ponto de partida (ponto 1) a extremidade da Praça da Matriz, então chamada Praça Cesário Lange, onde hoje se encontra a Agência dos Correios. Subimos, atravessando a Rua do Comércio e avançamos pela Rua dos Mendes (um só quarteirão), defletimos para a direita e entramos na Rua Joaquim Ribeiro da Silva (ponto 2), subimos quatro quarteirões até chegarmos à Rua Francisco Ribeiro da Silva (ponto 3), onde defletimos à direita e seguimos por mais quatro quarteirões até à Rua Passa Três (ponto 4), viramos novamente à direita e descemos dois quarteirões até a Rua Aristides Vasconcellos Leite (ponto 5), viramos à direita e avançamos por ela por mais dois quarteirões até chegarmos à Rua José Vieira de Miranda (ponto 6), viramos à esquerda e descemos mais dois quarteirões, onde chegamos a nosso ponto de partida: a extremidade sudeste da atual Praça Padre Adolfo Testa.

Em volta desse hexágono, uma pequena vila, havia numerosas chácaras. Assim, partindo do ponto 1 até a Rua do Comércio, tínhamos a Chácara de Elias Nunes. Da Rua do Comércio, passando pelo ponto 2 até à altura da atual Rua 9 de Julho, havia as terras dos Mendes. Desta altura em diante, havia a Chácara Santa Maria que Durvalino (Nhosinho) Batista de Almeida adquirira de Antônio Antunes e de Nhô Gé onde plantou muito café. Havia a chácara de Manuel Luiz (Maneco Luiz) de Menezes, pai de frei Luiz de Menezes.. Daí em diante, confinando com a Rua Francisco Ribeiro da Silva até o “ponto 4”, eram terras de Porfíria Maria da Conceição, onde moravam seus filhos: Maria Elidia (Marica) casada com Silvino Antunes (que mais tarde vendeu a sua chácara a Mário Chagas), Matheus Fiusa e a chácara de sua mãe Zoraide casada com Jorge Fiusa (genro de Porfíria), que tinha um grande pomar atrás do cemitério. Mais ou menos deste ponto até o ponto 1, eram as terras de Antônio Rodrigues Duarte.

Como se vê, a cidade era muito pequena com poucas ruas. Para ser exato havia as seguintes ruas: Joaquim Ribeiro da Silva, do Comércio, Aristides Vasconcellos Leite, Nove de Julho e Francisco Ribeiro da Silva, todas com quatro quarteirões cada uma. A Rua José Vieira de Miranda só tinha três quarteirões. Havia também mais três ruas, todas com somente dois quarteirões: Passa Três, Quinze de Novembro e Padre Gravina. Enfim, havia a Rua dos Mendes com um só quarteirão.

Não havia luz elétrica, água encanada ou esgoto. Também não havia rádios. Alguns velhos jornais chegavam a alguns mais abastados. O serviço de correio era moroso e muito irregular. As ruas eram de terra batida, as calçadas, quando havia, eram de tijolos, estreitas e irregulares. É provável que nestes anos que as ruas, então existentes, ganharam nomes. Também as estradas que davam acesso à vila não eram pavimentadas. Eram caminhos de terra batida que quando chovia tornavam-se intransitáveis.

Houve um português, Manoel Gabriel Silva, que instalou uma linha de ônibus que ligava Cesário Lange a Tatuí e depois também a Porangaba. Fazia uma única viagem. Ia pela manhã a Tatuí e de lá voltava à tarde. Quando chovia, a jardineira (como era chamada) não corria. Mais tarde, Silva adquiriu um ônibus, o “Pássaro Amarelo”.

Na frente da igreja, havia um grande pátio (onde hoje é o jardim, depois chamada Praça Cesário Lange, hoje Praça Padre Adolfo Testa). Era ali que os meninos na hora do recreio da escola jogavam peão, bolinha de gude (búrica) e futebol. A escola, que no início de Cesário Lange funcionara na atual Rua dos Mendes na casa de José Mendes da Silva (Nhô Gé), em 1922 tornava-se "Escolas Reunidas de Cesário Lange", então em novo endereço: na Rua Joaquim Ribeiro da Silva (onde hoje está a casa de Maria Inês Garcia). Por exemplo, em março de 1923, a escola contava com 132 alunos (80 meninos e 52 meninas) e seu diretor era Licínio Alves Cruz e tinha mesmo um grupo com 33 escoteiros comandado por Francisco Pires Fonseca. Em 1.º de fevereiro de 1934 instalou-se o “Grupo Escolar de Cesário Lange”. Ele foi construído justamente de frente ao Pátio da igreja, num terreno que a Paróquia doou para tal fim (onde hoje é o escritório do Jota). Tinha o novo grupo escolar quatro salas de aula e 152 alunos em sua inauguração. O diretor era Oswaldo Arruda Stein e as professoras: Noêmia de Moura, Cacilda Rodrigues de Almeida, Ernesta Xanira Rabello e Maria Cândida Pinto. Eram de Tatuí e de São Paulo. As de Tatuí, vinham na segunda-feira e só voltavam para lá no sábado à tarde. Vida dura era a delas, que além das aulas, nada tinham mais para fazer. A única pessoa da cidade no Grupo Escolar de Cesário Lange era o servente: Cesário Martins Ribeiro. Pe. Olegário Barata informava também em 1936, que o Grupo Escolar tinha 146 alunos que recebiam instrução religiosa dos seguintes professores: Nícia Fiusa, Luiz Passos, Etelvina Passos, Anna Bandeira e Benedita Ferraz. Havia também seis escolas rurais, chamadas isoladas, onde se administravam ensino religioso. Eram as seguintes: Bairro dos Pedros com 35 alunos, prof.ª Mathildes Cruce, Fazenda São José com 27 alunos com a prof.ª Guiomar Lara, Fazendinha com 37 alunos com a prof.ª Odette Oliveira Barbosa, Fazenda Monte Alegre com 25 anos com a prof.ª Hero Sá, Bairro Aleluia com 20 alunos com a prof.ª Inajá Gabajuna Azevedo e Fazenda Velha com 32 alunos com a prof.ª Maria Eulália Proença.

A rua principal era a “Rua do Comércio”, também chamada de Rua Direita ou Rua do Meio, que não ia além da Rua Francisco Ribeiro da Silva, dali em diante era o caminho que levava ao cemitério paroquial. Nesta rua sobressaía o sobrado de Cesário Ribeiro de Campos, onde funcionava a Casa Fonseca (de Francisco Pires Fonseca). Na Praça da Matriz, além da igreja, havia também um casarão que chamava a atenção, a de Domiciano Rodrigues Paulino (onde hoje, funciona a Prefeitura). Havia próximo ao cemitério um campo de futebol. Cesário Lange contava com um time de futebol o S. C. Ipiranga, que surgiu em 1924 e teve até mesmo um grande jogador de futebol: Jocelin Fiusa. Era ali a saída para Pereiras, uns 100 metros além do cemitério, dobrava à direita e subia mais ou menos na direção da atual Rua Sete de Setembro em direção à Cruz Preta. Atrás do cemitério ficavam as chácaras de Nhá Porfíria e de Zoraide Fiusa (sua filha) que chegavam até a atual Rua Francisco Ribeiro da Silva. A cidade se estendia um pouco mais em direção da Rua Nove de Julho, mas não passava além da travessa da Rua Passa Três. Lá adiante, onde hoje é a Estação Rodoviária, instalou-se aqui a primeira indústria, uma fábrica de queijos, que pertencia a um certo Rodrigo Barretti, mais adiante, havia o matadouro. As casas eram uma distante das outras, com enormes quintais, onde havia desde pomares até criação de galinhas e até mesmo chiqueiros de porcos. Cada casa tinha seu poço e no fundo do quintal, a latrina, as tais privadas. Pode-se imaginar que esta promiscuidade entre poços e latrinas não era nada higiênico. Foi Rafael Garcia que se pôs a construir umas casinhas em direção do cemitério e a vendê-las, dando um aspecto mais compacto à cidade.

A cidade era silenciosa, raros automóveis (uns quinze fordinhos bigodes), mas muitas carroças. Carroças carregando lenha, milho, café e principalmente algodão que desta maneira era levado a Tatuí. Quando Joaquim e Ismael Galvão apareceram por aqui com um caminhão Ford V8 para transportar algodão foi um acontecimento e tanto. As noites eram escuras, alumiadas pelos lampiões a querosene ou fifós dentro das casas e quando a noite caia, a iluminação era da lua e das estrelas. Em julho de 1936, Aristides Vasconcellos Neto (1903-1982) instalou um dínamo movido a óleo diesel para fornecer luz à vila. Quando escurecia, ligava-se o motor que funcionava, no início, até a meia-noite. Com a explosão da II Guerra Mundial, começou o racionamento de combustível e as horas de iluminação foram sendo reduzidas gradativamente, até que ultimamente, aí pelas 21h30 a cidade já estava às escuras. O sinal era conhecido: havia duas “piscadas” na iluminação. Era o aviso do “apagão”. Uns cinco minutos depois, a cidade mergulhava na escuridão. Este serviço durou até 1952, quando foram instalados os postes e a eletricidade passou a vir de Tatuí, fornecido pela “Empresa Luz e Força Elétrica de Tietê S. A.” e “Cia Luz e Força Tatuí” de Paulo San Juan.

Neste terrível conflito, a II Guerra, apesar de sua insignificância, Cesário Lange teve quatro jovens recrutados que serviram como pracinhas na Itália. Foram eles: Roque Rosa, José Roque Soares (Zé Amâncio), João de Arruda, José Maria Saturnino de Assis (Zé Valério). Os quatro voltaram. O último, no entanto, trouxesse consigo seqüelas do conflito, que provocaram sua morte precoce em 1973. Quanto aos outros três, só Roque Rosa está vivo. João de Arruda que desapareceu em agosto de 2002 misteriosamente em Guareí, onde vivia (seu corpo jamais foi encontrado) e José Roque Soares já não mais se encontram em nosso meio. (No dia 14 de dezembro de 2004, Roque Rosa faleceu em Cesário Lange.)

As rezas na igreja eram bem participadas. A igreja abria às 6h00, Pe. Barata celebrava missa às 7h30, às 12h00 o sino tocava, anunciando o “Angelus”. Às 18h45, rezava-se o terço com ladainhas e ministrava-se 45 minutos de catecismo. Durante alguns meses, como maio e outubro havia procissões todas as noites. Aos domingos, havia duas missas: as 7h00 e às 10h00, que era a missa paroquial, cantada e com sermão. Às 12h00, havia a reunião com as irmandades.

Uma atração da vila era o rufar do bumbo convocando os músicos para o ensaio de uma das bandas. Suas casas de ensaio ficavam cheias de pessoas, que iam ouvi-las e apreciar a boa música. Quando chegavam as festas dos padroeiros da paróquia era o momento alto da cidadezinha, quando se juntava a devoção à diversão, isto é, a igreja à banda. Houve, por este tempo também, mesmo um cinema, propriedade de João de Deus Mendes, o Cine Santa Cruz, que parece que teve uma vida muito efêmera. Havia também muita paixão por brigas de galo, corridas de cavalo e futebol, é claro. Para jogar no campo do adversário, os jogadores iam a cavalo.

Em volta da cidade, havia as fazendas com suas particularidades. Havia o Sítio Irmãos Mendes, na verdade uma fazenda enorme de mais de 150 alqueires de terra que pertencia a José Mendes da Silva (Nhô Gé) e seus irmãos, com uns 30 alqueires de algodão e o resto só mato, que era o orgulho do velho Nhô Gé. Havia a Fazenda Monte Alegre do Paraíso, na Água Branca, de Domiciano Rodrigues Paulino com muito algodão e café. Lá moravam cinco famílias para o cultivo da terra. Seu filho Cesário Rodrigues Paulino era proprietário do sítio vizinho, o Santa Benedita de muito café também. Havia a Fazenda São Joaquim na atual Fazendinha onde por volta de 1915 uns italianos, liderados por Giovanni Polesi (1857-1937), natural de Treviso, Itália, com seus filhos, entre eles Pedro, Ângelo, Lucas e Domingos Poles, a adquiriram de Raul Arruda. Ajuntaram-se a eles outros italianos ou descendentes como os Trevisan, os Rossi e mesmo alguns espanhóis, os Perez. Acima de todas, havia a Fazenda mais próspera do lugar: a Fazenda Monte Alegre (cuja sede é a atual EMA - Resort Sabrina) de Raul Arruda e Francisco Bonifácio Arruda com 200 alqueires de terras, onde moravam perto de trinta famílias que cuidavam de um excelente cafezal. Lá se instalou por volta de 1927 um enorme motor a vapor para beneficiar café. Durante a crise de 30, o administrador da fazenda Durvalino (Nhosinho) Batista de Almeida (2) ao invés de queimar o cafezal e dispensar todos os colonos (o que todo mundo estava fazendo), optou para o cultivo alternativo de outros cereais nas "ruas" do cafezal. No lado sudoeste de Cesário Lange, nos lados do ribeirão do Aleluia, ficavam as fazendas dos Mirandas, filhos de José Vieira de Miranda (3) que se instalara nesta região no fim do século XIX. Também, aqui predominava a pecuária e havia muito mato.

Este era o lado idílico e bucólico de Cesário Lange. Havia também o outro lado, o lado obscuro: o lado da fragilidade humana e principalmente das desavenças políticas, onde não faltaram brigas, tiroteios e mesmo mortes. Por exemplo, quando mudavam os ventos da política em Tatuí, por aqui chegavam as trovoadas e nestas tempestades, às vezes, sobrava alguma coisa até para o vigário. Parte essa que, definitivamente, não faz parte desta crônica da paróquia de Cesário Lange.

Tinha também a paróquia de Cesário Lange uma capela rural organizada, a de São Roque da Fazenda Velha (instalada em agosto de 1933). Por esta mesma época, informava o dito pároco, contava em Cesário Lange as seguintes associações religiosas anexas à paróquia: Apostolado da Oração, criada em 25 de junho de 1915, com 27 zeladores e 215 associados; Irmandade do Rosário Perpétuo, criada em 12 de fevereiro de 1914 (sic), com 31 zeladores e 216 associados; a Congregação da Doutrina Cristã, criada em 25 de dezembro de 1917 com 29 associados; Irmandade do Santíssimo Sacramento, criada em 04 de março de 1931, com 70 associados e a Pião União de Filhas de Maria, criada em 15 de junho de 1933, com 14 associadas. O mesmo vigário criaria, em seguida, a irmandade dos Congregados Marianos e a Cruzada Eucarística, esta no dia 1.º de novembro de 1936.

Vale registro um fato que até hoje não foi resolvido a contento. Como é sabido desde 1885 aproximadamente, através de doação feita à capela Santa Cruz de um terreno por parte de Vicente da Silva Ribeiro, a vila de Passa-Três contava com um cemitério que pertencia à igreja. Em agosto de 1922, devido à necessidade de mais espaço para a necrópole paroquial, Porfíria Maria da Conceição (4), nora do doador do terreno primitivo, ao saber que Pe. Gravina queria aumentar seu espaço, doou à paróquia um celamim de terra adjacente ao cemitério. Onze anos mais tarde, precisamente no dia 27 de março de 1933, o prefeito de Tatuí, Joaquim Assumpção Ribeiro (1930-1933), anunciava ao Pe. Manuel Antônio da Silva Leite, então pároco de Cesário Lange, que a partir do dia 1.º de abril daquele ano, a Prefeitura de Tatuí assumia a administração do cemitério. Fato este que gerou uma crise, pois parece que o padre estava de acordo com a decisão, mas parte da população, não. Denunciado ao bispo, Pe. Manuel foi transferido para Tietê. Pesava sobre ele o fato de não ter competência para tanto, pois o cemitério era um patrimônio da paróquia e não do padre. Realmente, em 23 de fevereiro de 1934, a mesma Porfíria Maria da Conceição, através de escritura pública, lavrada no 2.º Tabelionato de Tatuí (Livro 41, fls. 9) regularizou a doação do celamim de terra ao cemitério feita oralmente ao Pe. Gravina, doando à Paróquia Santa Cruz e não à Prefeitura de Tatuí.

No entanto, deve-se fazer um esclarecimento necessário: ao que parece, a questão do cemitério foi o pretexto para o afastamento do padre, pois o que havia mesmo era um fato político. Pe. Manuel era um homem reservado e amigo de algumas famílias de Cesário Lange que eram partidárias da nova ordem desencadeada pela revolução de 1930 e parece que outras famílias influentes se inclinavam pela República Velha sob a batuta dos chefes políticos de Tatuí. O fim de seu paroquiato antecede também à mudança de prefeito em Tatuí e o novo prefeito, João Gândara Mendes, que era casado com uma filha de Francisco Fonseca, nomeia também um outro subprefeito, no caso, Dácio Vieira de Camargo. Tratava-se de outra reviravolta política na cidade.

Na verdade, a venda de posses temporárias (sete anos) e perpétuas de lotes do cemitério era a única renda da paróquia, além das espórtulas. Em 19 de fevereiro de 1879, fora emanada uma lei por influência maçônica, onde secularizava todos os cemitérios. Com a Proclamação da República em 1889, com uma decisão unilateral do governo provisório que separou a Igreja do Estado, todos os cemitérios deveriam a ser administrados pelo Poder Civil. No entanto, o cemitério de Cesário Lange continuou a pertencer à Igreja. Foi só em 20 de setembro de 1984 que a Diocese de Sorocaba, diante desta excrescência jurídica, entregou este patrimônio paroquial à administração da Prefeitura Municipal de Cesário Lange sem nenhuma indenização. Para se chegar a esta solução, não foram poucos os mal-entendidos entre a Igreja e a administração municipal. Para se ter uma idéia, desde de 1965, começaram os contatos entre as duas partes, somente 19 anos depois, através do bispo Dom José Lambert e o prefeito Aristides Perez, conseguiu-se por fim a tal situação insólita. No dia 20 de novembro de 1984, através do Dr. Dantas, advogado da Mitra Diocesana, D. José Lambert doava o cemitério à cidade. A área doada pela Igreja à Prefeitura foi de 4.551,57 metros quadrados.

Resolveu-se o problema jurídico, mas não o prático: o da falta de espaço no cemitério local, pois o aumento de terreno feito pela Prefeitura foi pequeno e há muito não existe mais espaço para novas sepulturas.

1) O Pe. Anibal Gravina foi ordenado sacerdote em Taubaté por D. Epaminondas Nunes de Ávila e Silva em 20 de dezembro de 1919, ele foi aluno do Colégio Santo Inácio (jesuíta) no Rio de Janeiro.
2) Durvalino Batista de Almeida, filho de José Baptista de Faria (1860-1942) e de Maria Inocência de Almeida (1865-1941) nasceu em Laranjal Paulista em 11-08-1889 e faleceu em Cesário Lange em 07-03-1959 aos 70 anos, às 2h00. Casou-se em Laranjal Paulista com Francisca Rodrigues de Almeida, nascida em 20-02-1894 e falecida em 12-06-1975, filha de João Baptista de Almeida (João Venâncio) e Maria Rodrigues de Jesus (Maria Pereira). Foram seus filhos: João Batista Sobrinho que se casou com Maria José Martins; Lígia Batista Rodrigues que se casou com Manoel Rodrigues; Orlando Batista de Almeida que se casou com Orlanda Albano; Luiza Pereira Novaes que se casou com Anísio Pereira Novaes; Julieta Batista Galavoti que se casou com José Galavoti; Alberto Batista de Almeida que se casou com Carmen Ayres Mendes de Almeida; Maria Batista Chagas que se casou com Elzulino Chagas; Elza Batista Mariosi que se casou com Francisco Mariosi e José Francisco Batista de Almeida que se casou com Catarina Paes.
3) José Vieira de Miranda (1830-1912) era filho de João José Vieira de Miranda (João José dos Passos) e Delfina Vieira de Miranda e natural de Cotia. Foi casado com Ana Victória Pereira Dias (1857-1921) e teve os seguintes filhos: Joaquim Mamede Miranda (1877-1958) casado com Gertrudes Virgínia da Silva (1882-1978), José Dias (Juca) Miranda (1885-1977) casado com Gertrudes Ribeiro da Silva (1890-1986), Antônio (Tó) Dias de Miranda(1897-1988) casado com Durvalina Vieira de Miranda (1902-1955), viúvo casou-se pela segunda vez em 1957 com Maria Leme de Miranda (1931). Seus outros filhos foram João Dias de Miranda casado com Ana Teles, Vitória Miranda casada com Benedito Fogaça Leite, Maria Izabel de Miranda casada com Cesário (Cesarinho) da Silva Campos, Helena Miranda (1894-1923) casada com Juvenal de Arruda Campos (1888-1977), Gertrudes Miranda casada com Delfino Teles, Delfina Vieira Miranda (1898-1927) casada com Dácio Vieira de Camargo (1893-1966), Eulália Miranda casada com Juvenal de Camargo, Ana Miranda casada com Cesário Proença.

4) Porfíria Maria da Conceição (1862-1938) era viúva de Francisco Ribeiro da Silva (1855-1906). Ela era filha de Francisco Antônio da Costa Carlos e de Gertrudes Lisboa de Almeida e nascera em Tatuí. Foram seus filhos: José (Gé) Ribeiro casado com Izabel Menezes, Cesário (Cesarinho) da Silva Campos casado com Maria Izabel Miranda, Zoraide casada com Jorge Fiusa, Maria (Nhá Marica) casada com Silvino Antunes, Gertrudes (Tudinha) casada com Joaquim Mamede de Miranda, Elisa casada com Fenelon (Nenê) Vasconcellos Leite. Ela era irmã de Maria do Carmo de Almeida (1870-1948) casada com seu cunhado Cesário da Silva Ribeiro, de Maria Inocência (Nhá Marica) de Almeida (1865-1941) casada com José (Juca) Baptista de Faria (1860-1942), e de Ana (Aninha) da Costa Carlos casada com Bonifácio de Arruda. Ela tinha também dois irmãos: Cesário Carlos de Almeida e Basílio Carlos de Almeida (Carro).