sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

5 - A velha Matriz revisitada

O autor destas linhas (Fernando Antônio Batista de Almeida) entrou pela primeira vez na velha matriz na manhã de um domingo, dia 06 de abril de 1952, levado por seus avós paternos: Durvalino Batista de Almeida (Nhosinho Batista), sua esposa Francisca Rodrigues de Almeida e por sua tia: Elza Batista de Almeida. Tinha, então, somente oito dias de idade, e estava sendo levado à pia batismal, onde o Pe. Antônio Dragone o marcou para sempre como "filho adotivo de Deus" e membro da Igreja de Jesus Cristo ao batizá-lo. Era uma manhã de um domingo importante. Domingo de Ramos! Mais uma vez, a paróquia se preparava para celebrar mais uma Semana Santa, isto é, a morte e ressurreição do Senhor. Portanto, ele convida o leitor destas notas a adentrar naquela manhã de domingo e revisitar a velha igreja com o auxílio da memória alheia.

Ao que parece, quando a paróquia foi criada, a tal “capela-mor” de Santa Cruz reformada por José Mendes de Almeida e Cesário Lange Adrien não teria mais que uns 253 metros quadrados. Durante o paroquiato de Pe. Gravina, construi-se o corpo da igreja, aumentando uns 6 metros em sua profundidade, ficando parte da "capela-mor" como presbitério com duas pequenas sacristias laterais, cada uma das últimas com uns 13 metros quadrados. O presbitério, propriamente dito, era pequeno com uns 25 metros quadrados. O altar-mor era de madeira e colocado junto à parede do fundo do mesmo, como era costume antes da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II.

Havia seis altos castiçais sobre o altar, no centro um sacrário também de madeira, sobre ele havia um crucifixo. Em cada lado do altar havia duas colunas, à esquerda com a imagem de Santa Luzia e à direita com a imagem do Senhor Bom Jesus (nos tempos do Pe. Herman von Wolff, eram dois anjos com tochas).

Nas paredes laterais do presbitério havia duas pequenas portas, protegidas com cortinas, que davam acesso às sacristias. À parede esquerda do presbitério ficava pendurada uma luminária a óleo suspenso com correntes, tudo em metal dourado, para indicar a presença do Santíssimo Sacramento.

A nave da igreja teria uns 25 metros de comprimento por 11 metros de largura. No centro da fachada da matriz havia um campanário. Teria a velha matriz, então, uns 324 metros quadrados construídos, que ao longo dos anos foi sendo reformada, ganhando as características, as quais os antigos ainda se lembram e foram conservadas em algumas velhas fotografias.

Pode-se tentar relacionar de maneira cronológica tais melhoramentos. Assim, o Padre cônego José Messias de Aquino (1927-1929), que substituiu Pe. Gravina, forrou a igreja e revestiu suas paredes internas. Construiu, também, dois altares laterais, justamente nos ângulos ao lado do presbitério, um consagrado ao Senhor Bom Jesus e outro a Santa Teresinha, que tinha sido elevada às honras dos altares pelo Papa de então, Pio XI. Mais tarde haveria mudanças.

Nos tempos de Pe. Olegário Barata (1933-1937), foram acrescentados outros dois altares, junto às paredes laterais da igreja e alterados os oragos dos respectivos altares. Assim, no altar lateral à esquerda do altar-mor ficou dedicado ao Sagrado Coração de Jesus e no da direita, a Nossa Senhora do Rosário. Ao longo das paredes laterais, no lado direito, ficava o altar da Imaculada Conceição, tendo ao seu lado um confessionário. Ao longo da parede, à esquerda do altar-mor, ficou o altar de Santa Teresinha e de São Roque, ao lado da porta lateral que dava acesso à rua à esquerda da igreja. Ao lado desta porta lateral havia outro confessionário, já próximo à pia batismal, que ficava justamente à esquerda de quem entrava pela porta principal. Junto à pia batismal havia uma escada em caracol que dava acesso a uma espécie de mezanino, o coro da igreja, onde estavam o "harmonium" e os cantores nas grandes solenidades e na missa paroquial dos domingos.

O coral era de boa qualidade. Em sua terceira visita pastoral entre os dias 04 a 08 de novembro de 1933, nos tempos do Pe. Barata, Dom Aguirre faz um eloqüente elogio ao coral e ficou visivelmente comovido ao ouvir o cantar do hino "Ecce Sacerdos Magnus".

Também ao lado esquerdo do altar-mor, próximo ao altar do Sagrado Coração de Jesus, havia um púlpito, guarnecido de uma escadinha, onde pregava o sacerdote nas missas paroquiais das 10h00 da manhã aos domingos e dias de festa. Separando o presbitério, de teto mais baixo, do resto do corpo da igreja (a única nave) havia a mesa da comunhão com uns cinco metros de comprimento, separada no meio por uma portinhola que permitia a passagem do sacerdote com seus acólitos.

Na nave da igreja havia duas fileiras de bancos, contanto cada fila com quinze bancos. Na igreja, caberiam umas 180 pessoas sentadas. Pe. Barata contratou de São Paulo o mestre Mário Tomasi que pintou as paredes do presbitério. Em 10 de julho de 1933, o mesmo padre melhora a iluminação da igreja com lâmpadas "Coliman" (lâmpadas a gás). Aliás, o problema da iluminação era crítico, pois a igreja tinha poucas janelas e muito altas. Eram quatro janelas na frente, sendo duas ao lado da porta principal, com duas pequenas janelas abaixo da torre. Para iluminar a nave da igreja, havia três janelas em cada parede lateral e a pequena porta na parede lateral esquerda.

Durante sua quarta visita pastoral à paróquia entre os dias 20 e 23 de julho de 1936, vindo de Porangaba, Dom José Carlos de Aguirre abençoou o dínamo do gerador de luz elétrica instalado por Aristides Vasconcellos Neto (1903-1982). Assim a igreja recebia também a luz elétrica (em 1945, Pe. Teotônio dos Reis Cunha, substituindo o vigário Pe. Belotti, agradecia o "empresário" da eletricidade, Aristides Vasconcelos Neto, pois ele deixava de cobrar o serviço de luz da igreja). Substituindo Pe. Barata, veio para Cesário Lange o Pe. Mariano Duarte Peralta (janeiro a novembro de 1937) que em seu curto paroquiato fez notáveis reformas na igreja. Adquiriu-se um outro altar-mor, que pertencia à igreja matriz de Tatuí, obra de um marceneiro chamado Palumbo. Domiciano Rodrigues Paulino e Francisco de Moura se cotizaram para adquirirem o novo altar que custou 650$000. A imagem do Senhor Morto, adquirido em 1927, e que estava debaixo do antigo altar-mor, foi colocado debaixo do altar lateral de Nossa Senhora do Rosário, que tinha, ao lado, a imagem de Nossa Senhora das Dores numa redoma. Francisco Bonifácio de Arruda doou um belo vitral para a janelinha que ficava em cima do altar-mor no presbitério. Em maio de 1937, um novo "harmonium" foi adquirido e o velho, do tempo de Pe. Gravina, que estava em condições deploráveis, foi vendido. Também foi trocado o telhado, reformado o forro, que foi pintado por um pintor anônimo de São Paulo. Um grande lustre de gás acetileno foi adaptado para a luz elétrica no meio da igreja.

Este sacerdote tomou uma iniciativa digna de nota ao entregar alguns aposentos da casa paroquial para que os jovens pudessem jogar e dedicarem a leituras. A iniciativa em sua intenção era boa para combater o ócio e não ter o que fazer dos jovens. Demonstrou-se, no entanto, ser inadequado, o que acarretou o seu fechamento em 1940. Pe. Mariano, em 15 de dezembro de 1937, seria internado na Santa Casa de Tatuí, onde permaneceu internado por 12 dias, gravemente enfermo. Em seu lugar como pároco veio um monge cisterciense que não pertencia ao clero da diocese de Sorocaba, Pe. Raimundo Hillbrand, que continuou com novos melhoramentos na igreja. Em 1938, o padre instala seis lâmpadas para iluminar o "belo" teto da igreja. Reveste, também, as paredes externas da mesma, pintando-as. Adquire novas venezianas para as janelas da torre da igreja.

Em sua quarta visita pastoral, em março de 1942, Dom José Carlos de Aguirre reconhece que a igreja é pequena e sugere que seu corpo fosse aumentado, recuando o presbitério para o fundo, construindo novas sacristias. Terreno para tanto havia, embora com o passar do tempo, o terreno da igreja vinha sendo encolhido.

Um fato pitoresco que vale registrar foi o "confisco" do pátio da igreja em março de 1938 (a atual Praça Pe. Adolfo Testa), que fora doado à capelinha de Santa Cruz no fim do século por Severino Alves de Oliveira com uma área de 7.744 metros quadrados e que foi apossado pela "Câmara", apoiada pela Prefeitura de Tatuí, não obstante os protestos do pároco. Na ocasião, Domiciano Rodrigues Paulino e seu filho, Cesário Rodrigues Paulino, doaram uma boa quantidade de tijolos para que a paróquia protegesse o pouco que lhe restava de seu patrimônio, "antes que outros se apropriem" do resto, como registrava o amargurado vigário, que após relacionar os documentos que tinha e testemunhos, como um jornal de Tatuí de 1926 que noticiava o tal pátio como terreno paroquial, acrescentava em seguida, não com certa ironia: "noli confidere in homine".

No entanto, estava plantada a idéia que algo teria que ser feito. A bela igreja matriz estava com seus dias contados. Os seus curtos dias seriam ainda mais de dez anos até que se juntassem recursos e vontade para construir uma igreja maior.

Por dever de justiça, deve-se fazer um reparo em relação daqueles que lamentam e não se conformam com a demolição da velha matriz para se construir a atual. Respeitando as devidas proporções é a mesma acusação àquela que se faz sobre a demolição da antiga Basílica de São Pedro na colina do Vaticano em Roma, construída pelo imperador Constantino no século IV. Atribuiu-se à "megalomania" do Papa Júlio II (1503-1513) ou a fúria iconoclasta para tudo que era antigo do arquiteto Bramante, isto de acordo, com as simpatias de quem critica. Na verdade, a antiga basílica estava em estado tão deplorável, que não mais suportava reformas e o lugar era único, o túmulo do apóstolo Pedro.

Em Cesário Lange, o motivo parece ter sido bem mais trivial. Havia mesmo um terreno excelente para uma nova igreja, próximo ao campo de futebol, defronte ao cemitério e onde em 1952 se construiu a atual escola “Prof. Francisco Mendes de Almeida”. Foi simplesmente a absoluta falta de recursos para adquirir outro terreno e comprar material novo para construir a igreja nova que levou a decisão de ampliar a antiga, conservando o que já havia. Realmente, tentou-se aproveitar tudo o que desse, das paredes existentes até mesmo o material descartado, o que de fato aconteceu. Só como se verá adiante, as coisas não saíram como era esperado e o belo prédio da antiga matriz se perdeu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário