sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

4 - Frei Nuno recorda

No dia 20 de dezembro de 1998, na igreja matriz de Santa Cruz em Cesário Lange, na presença do pároco de então, Pe. Altair Alves de Lima, frei Nuno Alves Corrêa, O.Carm., celebrou uma Missa em ação de graças a Deus pelos 50.º ano de sua ordenação sacerdotal.

Cesário Alves Corrêa, este é seu nome de batismo, nasceu em Cesário Lange no dia 07 de novembro de 1924, filho de Antônio Alves Corrêa (chamado Antônio Lourenço), e Ana das Dores Fiusa (também chamada Aninha Tavares). Ingressou ainda menino, em 13 de fevereiro de 1936, no Seminário Nossa Senhora do Carmo dos padres carmelitas em Itu, onde permaneceu até dezembro de 1942. Em 1943, fez o noviciado na Ordem do Carmo em Mogi das Cruzes. Fez, entre os anos de 1943 a 1948, os cursos de filosofia e teologia na Igreja do Carmo na Bela Vista em São Paulo. Foi ordenado sacerdote em 08 de dezembro de 1948 pelo arcebispo de São Paulo cardeal Dom Carlos Carmelo Vasconcellos Motta. No ano seguinte, 1949, terminou o seu curso de teologia.

Nestes mais de cinqüenta anos como carmelita e sacerdote exerceu muitas atividades no Brasil e também no exterior. Trabalhou em Salvador, BA, em Maroim, SE, nos anos de 1958 e 1959 foi o diretor internacional da Ordem Terceira do Carmo em Fátima, Portugal. Foi pároco da paróquia do Carmo em Santos, Ponta da Praia de 1960 a 1968. Foi diretor do Colégio do Carmo em Santos de 1968 a 1975. De 1978 a 1986 foi o Superior da Província Carmelitana de Santo Elias, residindo em São Paulo. Hoje, reside no Convento da Irmandade Nossa Senhora do Carmo no Rio de Janeiro, onde é Delegado Provincial das Ordens Terceiras, cargo que ocupa desde 1987.
Nota: Frei Nuno Alves Corrêa faleceu no dia 03 de julho de 2008 no Rio de Janeiro.

(Frei Nuno toma a palavra)

No dia 20 de dezembro de 1948, à tardinha, fui recebido na entrada desta cidade e ao som da Banda de Música do Teté (1) cheguei à porta da antiga Matriz onde fui saudado por um nosso conterrâneo o Sr. Antônio Antunes. Momentos antes, o povo recebera o Senhor Bispo Diocesano, Dom José Carlos de Aguirre, que também viera para proceder a uma visita Pastoral, mas ele, delicadamente se escondeu para que o povo desse atenção à minha pessoa.

No dia seguinte, 21 de dezembro, por volta de 9h00 celebrei a Primeira Missa Solene, na antiga Matriz que deu lugar a esta igreja. Recordo-me como se fosse hoje: foi Mestre de Cerimônia o Padre Ambrósio Pabon (2); serviram de diácono, se não me engano, o Monsenhor Castanho (3), hoje bispo de Jundiaí e na época Reitor do Seminário de Sorocaba e como sub-diácono o meu colega Frei Aloísio da Costa Neves, já falecido; foi pregador o Monsenhor Silvestre Murari e numa atitude muito gentil, Dom José Carlos de Aguirre pediu-me para celebrar a primeira missa nesse dia de sua Visita Pastoral.

A missa foi cantada pelo coral do Joaquim da Silva Ribeiro que sempre foi incansável na animação dos cânticos religiosos na Paróquia. Após a missa, houve um almoço na antiga casa paroquial e à tarde, uma tourada, pois o meu padrinho de Crisma, Juvenal Xavier era um apaixonado desse esporte de lazer. O Sr. Cesarinho da Silva Campos e o Sr. Juvenal Xavier (4), respectivamente meus padrinhos de Batismo e Crisma, foram os paraninfos da primeira missa.
O Pe. Ambrósio teve a idéia de organizar uma comissão responsável pela preparação e realização dessa festa de minha Ordenação. Faziam parte da Comissão os Senhores Mário Chagas, Anísio Tavares, Antônio Ribeiro da Silva e o Batista Ribeiro, todos já falecidos; que Deus os tenha na glória. Foi uma festa linda que até agora me dá muitas saudades.

Iniciei em 1950 o meu Ministério Sacerdotal, primeiro no Nordeste, depois no Rio de Janeiro, em Fátima (Portugal), em Santos, em São Paulo e agora de novo no Rio de Janeiro, sempre cumprindo a Missão de Sacerdote em vários campos de atividade pastoral e até exercendo cargos de responsabilidade conferidos pela Ordem do Carmo. Enquanto viviam aqui minha mãe e irmã, Cesário Lange foi para mim sempre o recanto preferido para as minhas férias anuais e visitas freqüentes; a gente nunca se esquece nem da terra em que se nasceu nem de um povo que é tão bom e tão acolhedor.

Nestes cinqüenta anos de sacerdote eu tive a alegria de ver crescer Cesário Lange, acompanhando o seu desenvolvimento, lento, mas determinado e se tornando uma cidadezinha preferida para seus fins de semana de lazer de muitos paulistanos.

Da pequenina igreja que havia em 1948, surgiu esta igreja espaçosa e confortável, graças à presença laboriosa de seu inesquecível pároco Antônio Dragone. Ao Padre Olegário da Silva Barata, da década de trinta, sucederam-se diversos párocos: Monsenhor Teotônio, um dos párocos de Tatuí ainda hoje, Padre Ambrósio, Padre Antônio Dragone, Padre Testa, Padre Chico, Cônego Hilário e agora o bom Padre Altair. Todos eles deixaram a marca de seu zelo pastoral, dando vida à Comunidade Eclesial da qual vocês fazem parte.

A paróquia de Cesário Lange se não é das mais importantes, antes da Diocese de Botucatu, depois da Arquidiocese de Sorocaba e agora da diocese de Itapetininga, ela é, no entanto, uma paróquia muito viva e atuante. A esta paróquia, na medida do possível, durante a minha estadia de férias ou visitas, procurei sempre lançar uma sementinha do Evangelho e procurei despertar vocês para a devoção e o amor a Nossa Senhora do Carmo e seu Santo Escapulário, tanto assim que, pensando no futuro, consegui do Padre Chico a indicação do Bairro do Cruzeiro para sediar a Capela de Nossa Senhora do Carmo que aqui está testemunhando a origem e a passagem de um Frade Carmelita nesta cidade. E o bom povo do Cruzeiro com muito amor e sacrifício aqui construiu a Casa de Maria, Nossa Senhora do Carmo.

A longa distância do Rio de Janeiro, onde estou residindo há mais de dez anos, não me permite mais a freqüência de minhas visitas, mas confesso sinceramente que a lembrança de Cesário Lange e a de vocês, como bom povo conterrâneo, está muito viva em meu coração sacerdotal e nas minhas orações diárias. Eu os sempre recomendo à proteção de Deus e ao amparo de Nossa Senhora.

Terminando esta saudação, dando graças a Deus pelas minhas Bodas de Ouro de Sacerdócio que celebramos neste santo sacrifício da Missa, quero manifestar a vocês todos, sem distinção de pessoa alguma, a minha profunda gratidão por todas as provas de carinho e amor fraterno que de vocês recebi, durante toda a minha vida, desde o meu nascimento, a 07 de novembro de 1924 até o dia de hoje e tenho certeza de que serei alvo desta mesma estima até o fim de minha vida.

Minhas últimas palavras são de fraterna gratidão ao Padre Altair e a todos os fiéis paroquianos que se empenharam na realização desta festa, que não é minha, mas nossa, de vocês, aqui presentes, rezando comigo esta Missa de Ação de Graças. Esta é a mensagem que ditou o meu coração. Muito obrigado. (Frei Nuno Alves Corrêa)

Cesário Lange, 20 de dezembro de 1.998.

***
1) Banda do Teté (Aristheo Vasconcelos Leite). Trata-se da “Corporação Musical Carlos Gomes”, fundada por Teté em 1946.

2) Frei Nuno se engana. Não se trata do Pe. Pabón (Pe. José Antônio Pabón), que passou por aqui em 1945, mas certamente do Pe. Ambrósio Marks, pároco em Cesário Lange de 1942 a 1949.

3) Frei Nuno é traído, certamente, por sua memória. Mons. Castanho, que serviu como diácono em sua primeira missa em Cesário Lange (aliás, ele não tem certeza) não é o atual bispo emérito de Jundiaí, Dom Amauri Castanho, nascido em 1927, ordenado sacerdote em 1951 e bispo em 1976. Dom Amauri foi bispo auxiliar de Sorocaba de 1976-1979, foi transferido para Valença, depois para Jundiaí. Também não se trata de Dom José Carlos Castanho de Almeida, nascido em Guareí em 1930, ordenado sacerdote em 1953 e bispo em 1982, atualmente, bispo emérito de Araçatuba. O mons. Castanho, a quem se refere frei Nuno, pode ser o ilustre Pe. Luiz Castanho de Almeida (embora na época, ele já estivesse doente, é difícil imaginá-lo viajando com o bispo), nascido em Guareí em 06-11-1904, ordenado sacerdote por Dom Aguirre em 08-05-1927, famoso historiador, conhecido pelo pseudônimo literário de Aloísio de Almeida. Mons. Castanho deixou uma obra monumental sobre a História paulista e de Sorocaba. Faleceu em Sorocaba em 28-02-1981. Na opinião deste autor, o sacerdote que serviu como diácono pode ter sido tanto o Pe. Sérvulo de Madureira como o Pe. Vitório Maggioni, que na ocasião acompanhavam o bispo em sua visita pastoral.

4) Juvenal Xavier era o apelido de Juvenal de Arruda Campos (1888-1977), ele é o padrinho de crisma de Frei Nuno. Cesarinho, falecido em 1958, é Cesário da Silva de Campos, filho de Francisco Ribeiro da Silva e Porfíria Maria da Conceição. Ele é o padrinho de batismo de Frei Nuno.




Um comentário:

  1. QUE SAUDADE DO FREI NUNO!! NO DIA DESTA MISSA EU ESTIVE PRESENTE, TINHA APENAS 15 ANOS E UM PROFUNDA ADMIRAÇÃO POR ESTE NOSSO QUERIDO FRADE E IRMÃO CARMELITA. CERTAMENTE UMA DAS SEMENTES QUE ELE PLANTOU FOI A DA MINHA VOCAÇÃO, HOJE SOU RELIGIOSA, FECUNDADA E CUIDADA NA COMUNIDADE NOSSA SENHORA DO CARMO, MINHA COMUNIDADE QUERIDA DE ORIGEM. SOU IRMÃ DA PROVIDÊNCIA E MORO EM SALVADOR NA BAHIA, MAS MINHA FAMÍLIA RESIDE EM CEÁRIO LANGE E É UMA HONRA PARA MIM TER ENCONTRADO ESTE BLOG...

    QUE DEUS ABENÇOE E CONTINUE TORNANDO FECUNDA ESTA NOSSA HISTÓRIA!!!

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