quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

3 - Depois de Padre Pedro Gravina

Entretanto, em 31 de dezembro de 1924, instalava-se a nova diocese de Sorocaba, criada pelo Papa Pio XI em 04 de julho de mesmo ano e neste mesmo dia indicava o Pe. José Carlos de Aguirre de Bragança Paulista como seu primeiro bispo. A nova diocese desmembrava territórios das dioceses de São Paulo (agora, então, elevada à categoria de arquidiocese) e de Botucatu. A diocese de Sorocaba seria formada das seguintes paróquias: Angatuba, Boituva, Bom Sucesso (Paranapanema), Buri, Campo Largo (Araçoiba da Serra), Capão Bonito, Cerquilho, Cesário Lange, Conchas, Faxina (Itapeva), Guareí, Itaberá, Itaí, Itapetininga, Itaporanga, Itararé, Laranjal Paulista, Pereiras, Piedade, Pilar, Porangaba, Ribeirão Vermelho (Riversul), São Miguel Arcanjo, Sarapuí, Sorocaba (com duas paróquias: Catedral e Votorantim), Tatuí e Tietê. Assim, a Paróquia Santa Cruz de Cesário Lange deixava de pertencer à igreja particular de Botucatu para se agregar à nova diocese de Sorocaba.

No dia 31 de março de 1925, o novo bispo nomeou o Pe. Annibal Gravina (1), sobrinho do Pe. Gravina, como seu vigário coadjutor e entre os dias 07 a 08 de junho de 1925, Dom Aguirre fez sua primeira visita pastoral a Cesário Lange. Uma comissão de Cesário Lange foi até Tatuí para trazê-lo em seus "ótimos automóveis". A impressão da paróquia ao bispo foi muito favorável. Ele celebrava a Santa Missa às 7h30 da manhã, em seguida havia a pregação por algum de seus padres missionários, que o acompanhavam. Às 12h00 e 14h00, havia crismas. À tarde, havia a recitação do terço em honra à Virgem Maria com a bênção do Santíssimo Sacramento. Dom Aguirre crismou 877 pessoas, entre crianças, jovens e adultos e legitimou três uniões concubinas. Encorajou o sacerdote a prosseguir as obras para reformar e aumentar o corpo da igreja matriz, que era muito pequena, em seguida seguiu em direção a Porangaba.

Em 28 de julho de 1927, Padre Pedro Gravina deixou o cuidado pastoral da Paróquia Santa Cruz em Cesário Lange para assumir a de São José em Cerquilho. Para substituí-lo, o bispo diocesano, Dom José Carlos de Aguirre, enviou Padre cônego José Messias de Aquino (1927-1929). Seria o primeiro a substituir Padre Gravina. Nos anos seguintes viriam outros. Alguns deles, apenas como temporários ou mesmo como provisionados para determinada ocasião. Se Padre Gravina ficou em Cesário Lange doze anos como pároco, a média de permanência de seus sucessores seria menor. Os que ficaram mais tempo foram: Padre Ambrósio Marks (1942-1949) sete anos e Padre Antônio Dragone (1950-1961) onze anos, ambos, porém, menos que os doze anos do Padre Gravina. O sacerdote que ultrapassará a duração de Padre Gravina como pároco será Padre Francisco de Assis Moraes (1965-1982), permanecendo nesta função por mais de dezessete anos. Neste espaço de tempo, a paróquia Santa Cruz organizou-se como era praxe ao estilo trindentino em volta de irmandades e associações, tendo seus pontos altos nas grandes festas como Natal, Páscoa e festa dos padroeiros. Além de Santa Cruz, a festa de São Roque ganhava projeção, sem dúvida por influência, da área rural próxima a Laranjal e Cerquilho (norte e nordeste do distrito de Cesário Lange), onde se fixaram várias famílias de origem italiana.

Também, neste período, começaram surgir as primeiras capelas rurais. A primeira, ao que parece, foi a São Roque na Fazenda Velha quando o Pe. Olegário Barata era o pároco (1933-1937). No entanto, havia outras comunidades rurais assistidas como a do Rio da Várzea, a do Bairro dos Pedros, a do Bairro das Perobas. Em 1939, o pároco recebe permissão de Dom Aguirre para se utilizar um altar portátil para celebrações da Missa em “lugares decentes”, que estivessem pelo menos três quilômetros de distância da Matriz.

As festas da paróquia, sem dúvida alguma, eram o grande acontecimento no distrito de Cesário Lange. Dentre os paroquianos, geralmente membros de uma das irmandades, eram nomeados os festeiros que organizavam a festa. A parte religiosa consistia em missas matutinas às 7h00 e às 10h00, esta última era a missa paroquial, por excelência: solene, cantada e com sermão. Na parte vespertina: novenas, procissões, pregações, bênçãos do Santíssimo Sacramento. No dia da festa, ela se encerrava com a alvorada tocada por uma banda e uma imponente procissão com andores dos padroeiros, vindos da casa dos festeiros, até à igreja matriz onde se celebrava uma solene "missa cantada". Participavam dela, as bandas de música acompanhando procissões. Houve um tempo, nos anos trinta, que Cesário Lange chegou ter duas bandas: a Santa Teresinha e a Santa Cruz, que desapareceram nos anos da II Guerra Mundial. Em 1946 surgiria a "Corporação Carlos Gomes" fundada por Aristheo Vasconcelos Leite. Havia nestas festas paroquiais animados cururus, touradas e, é claro, os inesquecíveis leilões de lenha em benefício da paróquia (naquele tempo, todos os fogões, mesmo na cidade, eram à lenha), tudo animado por muita queima de fogos e rojões e doces para a criançada.

Para se ter uma idéia do estado da Paróquia Santa Cruz, por volta de 1934, num levantamento diocesano, o pároco de então, o Padre Olegário Barata (1933-1937), informava que a paróquia contava com uma área de 251 km quadrados (uma curiosidade, hoje o município só tem 207 km quadrados), com uma população de 4.127 pessoas, portanto, os mesmos habitantes da época do Pe. Gravina, contando inclusive com uma área rural muito povoada, então, já que toda a economia do município era agrícola, com ênfase no café, no algodão e na pecuária. A área urbana tinha cerca de 200 casas e havia 14 assinantes do serviço telefônico, sendo telefonista a senhorita Ignez de Almeida. O primeiro telefone em Cesário Lange tinha sido instalado em 1911. Os juizes de Paz eram João Quirino Torres e Luiz de Moura, escrivão João Mendes de Almeida, um sub-delegado: Francisco Pires da Fonseca, um sub-prefeito: Dácio Vieira de Camargo e um recebedor municipal: Antônio Antunes da Silva (o Tonho da banda).

Como seria a geografia da vila de Cesário Lange da Paróquia Santa Cruz do Pe. Barata em meados dos anos 30? Imagine o leitor um hexágono, formado por três quadrados em um "L" invertido. Sendo que cada um desses três quadrados, formados por quatro quarteirões. Assim era Cesário Lange, uma vila com 12 quarteirões. Para entender os confins do povoado, consideremos como ponto de partida (ponto 1) a extremidade da Praça da Matriz, então chamada Praça Cesário Lange, onde hoje se encontra a Agência dos Correios. Subimos, atravessando a Rua do Comércio e avançamos pela Rua dos Mendes (um só quarteirão), defletimos para a direita e entramos na Rua Joaquim Ribeiro da Silva (ponto 2), subimos quatro quarteirões até chegarmos à Rua Francisco Ribeiro da Silva (ponto 3), onde defletimos à direita e seguimos por mais quatro quarteirões até à Rua Passa Três (ponto 4), viramos novamente à direita e descemos dois quarteirões até a Rua Aristides Vasconcellos Leite (ponto 5), viramos à direita e avançamos por ela por mais dois quarteirões até chegarmos à Rua José Vieira de Miranda (ponto 6), viramos à esquerda e descemos mais dois quarteirões, onde chegamos a nosso ponto de partida: a extremidade sudeste da atual Praça Padre Adolfo Testa.

Em volta desse hexágono, uma pequena vila, havia numerosas chácaras. Assim, partindo do ponto 1 até a Rua do Comércio, tínhamos a Chácara de Elias Nunes. Da Rua do Comércio, passando pelo ponto 2 até à altura da atual Rua 9 de Julho, havia as terras dos Mendes. Desta altura em diante, havia a Chácara Santa Maria que Durvalino (Nhosinho) Batista de Almeida adquirira de Antônio Antunes e de Nhô Gé onde plantou muito café. Havia a chácara de Manuel Luiz (Maneco Luiz) de Menezes, pai de frei Luiz de Menezes.. Daí em diante, confinando com a Rua Francisco Ribeiro da Silva até o “ponto 4”, eram terras de Porfíria Maria da Conceição, onde moravam seus filhos: Maria Elidia (Marica) casada com Silvino Antunes (que mais tarde vendeu a sua chácara a Mário Chagas), Matheus Fiusa e a chácara de sua mãe Zoraide casada com Jorge Fiusa (genro de Porfíria), que tinha um grande pomar atrás do cemitério. Mais ou menos deste ponto até o ponto 1, eram as terras de Antônio Rodrigues Duarte.

Como se vê, a cidade era muito pequena com poucas ruas. Para ser exato havia as seguintes ruas: Joaquim Ribeiro da Silva, do Comércio, Aristides Vasconcellos Leite, Nove de Julho e Francisco Ribeiro da Silva, todas com quatro quarteirões cada uma. A Rua José Vieira de Miranda só tinha três quarteirões. Havia também mais três ruas, todas com somente dois quarteirões: Passa Três, Quinze de Novembro e Padre Gravina. Enfim, havia a Rua dos Mendes com um só quarteirão.

Não havia luz elétrica, água encanada ou esgoto. Também não havia rádios. Alguns velhos jornais chegavam a alguns mais abastados. O serviço de correio era moroso e muito irregular. As ruas eram de terra batida, as calçadas, quando havia, eram de tijolos, estreitas e irregulares. É provável que nestes anos que as ruas, então existentes, ganharam nomes. Também as estradas que davam acesso à vila não eram pavimentadas. Eram caminhos de terra batida que quando chovia tornavam-se intransitáveis.

Houve um português, Manoel Gabriel Silva, que instalou uma linha de ônibus que ligava Cesário Lange a Tatuí e depois também a Porangaba. Fazia uma única viagem. Ia pela manhã a Tatuí e de lá voltava à tarde. Quando chovia, a jardineira (como era chamada) não corria. Mais tarde, Silva adquiriu um ônibus, o “Pássaro Amarelo”.

Na frente da igreja, havia um grande pátio (onde hoje é o jardim, depois chamada Praça Cesário Lange, hoje Praça Padre Adolfo Testa). Era ali que os meninos na hora do recreio da escola jogavam peão, bolinha de gude (búrica) e futebol. A escola, que no início de Cesário Lange funcionara na atual Rua dos Mendes na casa de José Mendes da Silva (Nhô Gé), em 1922 tornava-se "Escolas Reunidas de Cesário Lange", então em novo endereço: na Rua Joaquim Ribeiro da Silva (onde hoje está a casa de Maria Inês Garcia). Por exemplo, em março de 1923, a escola contava com 132 alunos (80 meninos e 52 meninas) e seu diretor era Licínio Alves Cruz e tinha mesmo um grupo com 33 escoteiros comandado por Francisco Pires Fonseca. Em 1.º de fevereiro de 1934 instalou-se o “Grupo Escolar de Cesário Lange”. Ele foi construído justamente de frente ao Pátio da igreja, num terreno que a Paróquia doou para tal fim (onde hoje é o escritório do Jota). Tinha o novo grupo escolar quatro salas de aula e 152 alunos em sua inauguração. O diretor era Oswaldo Arruda Stein e as professoras: Noêmia de Moura, Cacilda Rodrigues de Almeida, Ernesta Xanira Rabello e Maria Cândida Pinto. Eram de Tatuí e de São Paulo. As de Tatuí, vinham na segunda-feira e só voltavam para lá no sábado à tarde. Vida dura era a delas, que além das aulas, nada tinham mais para fazer. A única pessoa da cidade no Grupo Escolar de Cesário Lange era o servente: Cesário Martins Ribeiro. Pe. Olegário Barata informava também em 1936, que o Grupo Escolar tinha 146 alunos que recebiam instrução religiosa dos seguintes professores: Nícia Fiusa, Luiz Passos, Etelvina Passos, Anna Bandeira e Benedita Ferraz. Havia também seis escolas rurais, chamadas isoladas, onde se administravam ensino religioso. Eram as seguintes: Bairro dos Pedros com 35 alunos, prof.ª Mathildes Cruce, Fazenda São José com 27 alunos com a prof.ª Guiomar Lara, Fazendinha com 37 alunos com a prof.ª Odette Oliveira Barbosa, Fazenda Monte Alegre com 25 anos com a prof.ª Hero Sá, Bairro Aleluia com 20 alunos com a prof.ª Inajá Gabajuna Azevedo e Fazenda Velha com 32 alunos com a prof.ª Maria Eulália Proença.

A rua principal era a “Rua do Comércio”, também chamada de Rua Direita ou Rua do Meio, que não ia além da Rua Francisco Ribeiro da Silva, dali em diante era o caminho que levava ao cemitério paroquial. Nesta rua sobressaía o sobrado de Cesário Ribeiro de Campos, onde funcionava a Casa Fonseca (de Francisco Pires Fonseca). Na Praça da Matriz, além da igreja, havia também um casarão que chamava a atenção, a de Domiciano Rodrigues Paulino (onde hoje, funciona a Prefeitura). Havia próximo ao cemitério um campo de futebol. Cesário Lange contava com um time de futebol o S. C. Ipiranga, que surgiu em 1924 e teve até mesmo um grande jogador de futebol: Jocelin Fiusa. Era ali a saída para Pereiras, uns 100 metros além do cemitério, dobrava à direita e subia mais ou menos na direção da atual Rua Sete de Setembro em direção à Cruz Preta. Atrás do cemitério ficavam as chácaras de Nhá Porfíria e de Zoraide Fiusa (sua filha) que chegavam até a atual Rua Francisco Ribeiro da Silva. A cidade se estendia um pouco mais em direção da Rua Nove de Julho, mas não passava além da travessa da Rua Passa Três. Lá adiante, onde hoje é a Estação Rodoviária, instalou-se aqui a primeira indústria, uma fábrica de queijos, que pertencia a um certo Rodrigo Barretti, mais adiante, havia o matadouro. As casas eram uma distante das outras, com enormes quintais, onde havia desde pomares até criação de galinhas e até mesmo chiqueiros de porcos. Cada casa tinha seu poço e no fundo do quintal, a latrina, as tais privadas. Pode-se imaginar que esta promiscuidade entre poços e latrinas não era nada higiênico. Foi Rafael Garcia que se pôs a construir umas casinhas em direção do cemitério e a vendê-las, dando um aspecto mais compacto à cidade.

A cidade era silenciosa, raros automóveis (uns quinze fordinhos bigodes), mas muitas carroças. Carroças carregando lenha, milho, café e principalmente algodão que desta maneira era levado a Tatuí. Quando Joaquim e Ismael Galvão apareceram por aqui com um caminhão Ford V8 para transportar algodão foi um acontecimento e tanto. As noites eram escuras, alumiadas pelos lampiões a querosene ou fifós dentro das casas e quando a noite caia, a iluminação era da lua e das estrelas. Em julho de 1936, Aristides Vasconcellos Neto (1903-1982) instalou um dínamo movido a óleo diesel para fornecer luz à vila. Quando escurecia, ligava-se o motor que funcionava, no início, até a meia-noite. Com a explosão da II Guerra Mundial, começou o racionamento de combustível e as horas de iluminação foram sendo reduzidas gradativamente, até que ultimamente, aí pelas 21h30 a cidade já estava às escuras. O sinal era conhecido: havia duas “piscadas” na iluminação. Era o aviso do “apagão”. Uns cinco minutos depois, a cidade mergulhava na escuridão. Este serviço durou até 1952, quando foram instalados os postes e a eletricidade passou a vir de Tatuí, fornecido pela “Empresa Luz e Força Elétrica de Tietê S. A.” e “Cia Luz e Força Tatuí” de Paulo San Juan.

Neste terrível conflito, a II Guerra, apesar de sua insignificância, Cesário Lange teve quatro jovens recrutados que serviram como pracinhas na Itália. Foram eles: Roque Rosa, José Roque Soares (Zé Amâncio), João de Arruda, José Maria Saturnino de Assis (Zé Valério). Os quatro voltaram. O último, no entanto, trouxesse consigo seqüelas do conflito, que provocaram sua morte precoce em 1973. Quanto aos outros três, só Roque Rosa está vivo. João de Arruda que desapareceu em agosto de 2002 misteriosamente em Guareí, onde vivia (seu corpo jamais foi encontrado) e José Roque Soares já não mais se encontram em nosso meio. (No dia 14 de dezembro de 2004, Roque Rosa faleceu em Cesário Lange.)

As rezas na igreja eram bem participadas. A igreja abria às 6h00, Pe. Barata celebrava missa às 7h30, às 12h00 o sino tocava, anunciando o “Angelus”. Às 18h45, rezava-se o terço com ladainhas e ministrava-se 45 minutos de catecismo. Durante alguns meses, como maio e outubro havia procissões todas as noites. Aos domingos, havia duas missas: as 7h00 e às 10h00, que era a missa paroquial, cantada e com sermão. Às 12h00, havia a reunião com as irmandades.

Uma atração da vila era o rufar do bumbo convocando os músicos para o ensaio de uma das bandas. Suas casas de ensaio ficavam cheias de pessoas, que iam ouvi-las e apreciar a boa música. Quando chegavam as festas dos padroeiros da paróquia era o momento alto da cidadezinha, quando se juntava a devoção à diversão, isto é, a igreja à banda. Houve, por este tempo também, mesmo um cinema, propriedade de João de Deus Mendes, o Cine Santa Cruz, que parece que teve uma vida muito efêmera. Havia também muita paixão por brigas de galo, corridas de cavalo e futebol, é claro. Para jogar no campo do adversário, os jogadores iam a cavalo.

Em volta da cidade, havia as fazendas com suas particularidades. Havia o Sítio Irmãos Mendes, na verdade uma fazenda enorme de mais de 150 alqueires de terra que pertencia a José Mendes da Silva (Nhô Gé) e seus irmãos, com uns 30 alqueires de algodão e o resto só mato, que era o orgulho do velho Nhô Gé. Havia a Fazenda Monte Alegre do Paraíso, na Água Branca, de Domiciano Rodrigues Paulino com muito algodão e café. Lá moravam cinco famílias para o cultivo da terra. Seu filho Cesário Rodrigues Paulino era proprietário do sítio vizinho, o Santa Benedita de muito café também. Havia a Fazenda São Joaquim na atual Fazendinha onde por volta de 1915 uns italianos, liderados por Giovanni Polesi (1857-1937), natural de Treviso, Itália, com seus filhos, entre eles Pedro, Ângelo, Lucas e Domingos Poles, a adquiriram de Raul Arruda. Ajuntaram-se a eles outros italianos ou descendentes como os Trevisan, os Rossi e mesmo alguns espanhóis, os Perez. Acima de todas, havia a Fazenda mais próspera do lugar: a Fazenda Monte Alegre (cuja sede é a atual EMA - Resort Sabrina) de Raul Arruda e Francisco Bonifácio Arruda com 200 alqueires de terras, onde moravam perto de trinta famílias que cuidavam de um excelente cafezal. Lá se instalou por volta de 1927 um enorme motor a vapor para beneficiar café. Durante a crise de 30, o administrador da fazenda Durvalino (Nhosinho) Batista de Almeida (2) ao invés de queimar o cafezal e dispensar todos os colonos (o que todo mundo estava fazendo), optou para o cultivo alternativo de outros cereais nas "ruas" do cafezal. No lado sudoeste de Cesário Lange, nos lados do ribeirão do Aleluia, ficavam as fazendas dos Mirandas, filhos de José Vieira de Miranda (3) que se instalara nesta região no fim do século XIX. Também, aqui predominava a pecuária e havia muito mato.

Este era o lado idílico e bucólico de Cesário Lange. Havia também o outro lado, o lado obscuro: o lado da fragilidade humana e principalmente das desavenças políticas, onde não faltaram brigas, tiroteios e mesmo mortes. Por exemplo, quando mudavam os ventos da política em Tatuí, por aqui chegavam as trovoadas e nestas tempestades, às vezes, sobrava alguma coisa até para o vigário. Parte essa que, definitivamente, não faz parte desta crônica da paróquia de Cesário Lange.

Tinha também a paróquia de Cesário Lange uma capela rural organizada, a de São Roque da Fazenda Velha (instalada em agosto de 1933). Por esta mesma época, informava o dito pároco, contava em Cesário Lange as seguintes associações religiosas anexas à paróquia: Apostolado da Oração, criada em 25 de junho de 1915, com 27 zeladores e 215 associados; Irmandade do Rosário Perpétuo, criada em 12 de fevereiro de 1914 (sic), com 31 zeladores e 216 associados; a Congregação da Doutrina Cristã, criada em 25 de dezembro de 1917 com 29 associados; Irmandade do Santíssimo Sacramento, criada em 04 de março de 1931, com 70 associados e a Pião União de Filhas de Maria, criada em 15 de junho de 1933, com 14 associadas. O mesmo vigário criaria, em seguida, a irmandade dos Congregados Marianos e a Cruzada Eucarística, esta no dia 1.º de novembro de 1936.

Vale registro um fato que até hoje não foi resolvido a contento. Como é sabido desde 1885 aproximadamente, através de doação feita à capela Santa Cruz de um terreno por parte de Vicente da Silva Ribeiro, a vila de Passa-Três contava com um cemitério que pertencia à igreja. Em agosto de 1922, devido à necessidade de mais espaço para a necrópole paroquial, Porfíria Maria da Conceição (4), nora do doador do terreno primitivo, ao saber que Pe. Gravina queria aumentar seu espaço, doou à paróquia um celamim de terra adjacente ao cemitério. Onze anos mais tarde, precisamente no dia 27 de março de 1933, o prefeito de Tatuí, Joaquim Assumpção Ribeiro (1930-1933), anunciava ao Pe. Manuel Antônio da Silva Leite, então pároco de Cesário Lange, que a partir do dia 1.º de abril daquele ano, a Prefeitura de Tatuí assumia a administração do cemitério. Fato este que gerou uma crise, pois parece que o padre estava de acordo com a decisão, mas parte da população, não. Denunciado ao bispo, Pe. Manuel foi transferido para Tietê. Pesava sobre ele o fato de não ter competência para tanto, pois o cemitério era um patrimônio da paróquia e não do padre. Realmente, em 23 de fevereiro de 1934, a mesma Porfíria Maria da Conceição, através de escritura pública, lavrada no 2.º Tabelionato de Tatuí (Livro 41, fls. 9) regularizou a doação do celamim de terra ao cemitério feita oralmente ao Pe. Gravina, doando à Paróquia Santa Cruz e não à Prefeitura de Tatuí.

No entanto, deve-se fazer um esclarecimento necessário: ao que parece, a questão do cemitério foi o pretexto para o afastamento do padre, pois o que havia mesmo era um fato político. Pe. Manuel era um homem reservado e amigo de algumas famílias de Cesário Lange que eram partidárias da nova ordem desencadeada pela revolução de 1930 e parece que outras famílias influentes se inclinavam pela República Velha sob a batuta dos chefes políticos de Tatuí. O fim de seu paroquiato antecede também à mudança de prefeito em Tatuí e o novo prefeito, João Gândara Mendes, que era casado com uma filha de Francisco Fonseca, nomeia também um outro subprefeito, no caso, Dácio Vieira de Camargo. Tratava-se de outra reviravolta política na cidade.

Na verdade, a venda de posses temporárias (sete anos) e perpétuas de lotes do cemitério era a única renda da paróquia, além das espórtulas. Em 19 de fevereiro de 1879, fora emanada uma lei por influência maçônica, onde secularizava todos os cemitérios. Com a Proclamação da República em 1889, com uma decisão unilateral do governo provisório que separou a Igreja do Estado, todos os cemitérios deveriam a ser administrados pelo Poder Civil. No entanto, o cemitério de Cesário Lange continuou a pertencer à Igreja. Foi só em 20 de setembro de 1984 que a Diocese de Sorocaba, diante desta excrescência jurídica, entregou este patrimônio paroquial à administração da Prefeitura Municipal de Cesário Lange sem nenhuma indenização. Para se chegar a esta solução, não foram poucos os mal-entendidos entre a Igreja e a administração municipal. Para se ter uma idéia, desde de 1965, começaram os contatos entre as duas partes, somente 19 anos depois, através do bispo Dom José Lambert e o prefeito Aristides Perez, conseguiu-se por fim a tal situação insólita. No dia 20 de novembro de 1984, através do Dr. Dantas, advogado da Mitra Diocesana, D. José Lambert doava o cemitério à cidade. A área doada pela Igreja à Prefeitura foi de 4.551,57 metros quadrados.

Resolveu-se o problema jurídico, mas não o prático: o da falta de espaço no cemitério local, pois o aumento de terreno feito pela Prefeitura foi pequeno e há muito não existe mais espaço para novas sepulturas.

1) O Pe. Anibal Gravina foi ordenado sacerdote em Taubaté por D. Epaminondas Nunes de Ávila e Silva em 20 de dezembro de 1919, ele foi aluno do Colégio Santo Inácio (jesuíta) no Rio de Janeiro.
2) Durvalino Batista de Almeida, filho de José Baptista de Faria (1860-1942) e de Maria Inocência de Almeida (1865-1941) nasceu em Laranjal Paulista em 11-08-1889 e faleceu em Cesário Lange em 07-03-1959 aos 70 anos, às 2h00. Casou-se em Laranjal Paulista com Francisca Rodrigues de Almeida, nascida em 20-02-1894 e falecida em 12-06-1975, filha de João Baptista de Almeida (João Venâncio) e Maria Rodrigues de Jesus (Maria Pereira). Foram seus filhos: João Batista Sobrinho que se casou com Maria José Martins; Lígia Batista Rodrigues que se casou com Manoel Rodrigues; Orlando Batista de Almeida que se casou com Orlanda Albano; Luiza Pereira Novaes que se casou com Anísio Pereira Novaes; Julieta Batista Galavoti que se casou com José Galavoti; Alberto Batista de Almeida que se casou com Carmen Ayres Mendes de Almeida; Maria Batista Chagas que se casou com Elzulino Chagas; Elza Batista Mariosi que se casou com Francisco Mariosi e José Francisco Batista de Almeida que se casou com Catarina Paes.
3) José Vieira de Miranda (1830-1912) era filho de João José Vieira de Miranda (João José dos Passos) e Delfina Vieira de Miranda e natural de Cotia. Foi casado com Ana Victória Pereira Dias (1857-1921) e teve os seguintes filhos: Joaquim Mamede Miranda (1877-1958) casado com Gertrudes Virgínia da Silva (1882-1978), José Dias (Juca) Miranda (1885-1977) casado com Gertrudes Ribeiro da Silva (1890-1986), Antônio (Tó) Dias de Miranda(1897-1988) casado com Durvalina Vieira de Miranda (1902-1955), viúvo casou-se pela segunda vez em 1957 com Maria Leme de Miranda (1931). Seus outros filhos foram João Dias de Miranda casado com Ana Teles, Vitória Miranda casada com Benedito Fogaça Leite, Maria Izabel de Miranda casada com Cesário (Cesarinho) da Silva Campos, Helena Miranda (1894-1923) casada com Juvenal de Arruda Campos (1888-1977), Gertrudes Miranda casada com Delfino Teles, Delfina Vieira Miranda (1898-1927) casada com Dácio Vieira de Camargo (1893-1966), Eulália Miranda casada com Juvenal de Camargo, Ana Miranda casada com Cesário Proença.

4) Porfíria Maria da Conceição (1862-1938) era viúva de Francisco Ribeiro da Silva (1855-1906). Ela era filha de Francisco Antônio da Costa Carlos e de Gertrudes Lisboa de Almeida e nascera em Tatuí. Foram seus filhos: José (Gé) Ribeiro casado com Izabel Menezes, Cesário (Cesarinho) da Silva Campos casado com Maria Izabel Miranda, Zoraide casada com Jorge Fiusa, Maria (Nhá Marica) casada com Silvino Antunes, Gertrudes (Tudinha) casada com Joaquim Mamede de Miranda, Elisa casada com Fenelon (Nenê) Vasconcellos Leite. Ela era irmã de Maria do Carmo de Almeida (1870-1948) casada com seu cunhado Cesário da Silva Ribeiro, de Maria Inocência (Nhá Marica) de Almeida (1865-1941) casada com José (Juca) Baptista de Faria (1860-1942), e de Ana (Aninha) da Costa Carlos casada com Bonifácio de Arruda. Ela tinha também dois irmãos: Cesário Carlos de Almeida e Basílio Carlos de Almeida (Carro).