quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Uma explicação necessária

Não sou historiador nem tenho pretensões de sê-lo. Posso dizer também: “Meto ubi non semino” (Mt 25,26b), portanto “colho onde não plantei”. Este modestíssimo trabalho, certamente com muitas inexatidões, é fruto de um pedido feito pelo então pároco de Cesário Lange para que eu preparasse uma breve história da Paróquia Santa Cruz de Cesário Lange na passagem dos 90 anos de sua criação. Fi-lo com prazer, embora de maneira um tanto dolorosa. Tenho um grave problema que praticamente travou-me os dedos da mão direita. Digito só com a mão esquerda e assim mesmo muito lentamente e com muita dor. Alguns parágrafos digitados e às vezes toda uma semana sem uma linha sequer. É certo que tive ajuda de terceiros, por exemplo, minha irmã digitou-me trechos inteiros. Enfim o que poderia ser feito em trinta dias, levou mais de seis meses. Isto explica a brevidade em tocar certos assuntos e principalmente a forma fragmentada e claudicante do texto, pois literalmente, ele foi composto aos pedacinhos. Por outro lado, as coisas não estavam difíceis, pois há muitos anos anoto genealogias, informações encontradas, orais e escritas e venho publicando alguma coisa sobre a história, crônicas e "causos" de Cesário Lange, anonimamente, no jornal "Aliança Regional", principalmente sobre as origens de cidade. Quanto a isso, os recursos da informática mostraram utilíssimos, é só "copiar" e "colar", em seguida dar uma coerência ao texto. Trabalho maior foi em relação à obra de confrontar as informações com documentos dignos de fé, já que os boatos e as lendas em muitos casos superam em muito à realidade. Portanto, tive que correr atrás de alguma documentação confiável para ultimar o trabalho. O presente trabalho está dividido em três partes. As duas primeiras foram compostas com o máximo rigor possível e se há algo pouco acurado ou mesmo equivocado, é devido a erro de julgamento ou incompetência do autor. Quanto à terceira parte da obra, acrescentei algumas crônicas relativas aos inícios de Cesário Lange e que tinham alguma relação com a Paróquia Santa Cruz. Aí, dei-me a liberdade de acrescentar o que poderia ser provável na falta de documentação.

Decididamente, Cesário Lange não tem história, pelo menos uma história escrita. A única publicação que encontrei é um livreto semi-oficial impresso em 1968, que tem uma boa descrição física do município, mas quanto à história tem um viés áulico, mostra mais ou menos a situação de momento e é muito falho quanto à história primeva da cidade. A história de Cesário Lange ainda está por ser escrita. Tenho comigo algumas anotações que no futuro podem resultar em alguma coisa. Enfim, o meu propósito foi o de escrever uma breve história da Paróquia Santa Cruz de Cesário Lange e nada mais.

Oficialmente Cesário Lange foi fundado em 12 de dezembro de 1878 em volta de uma capelinha e só ganhou autonomia em 1.º de janeiro de 1960 com a posse de seu primeiro prefeito. Temos, portanto, um lapso de uns 80 anos em que a principal instituição, ainda que não fosse a única, foi a Igreja Católica, sendo que a paróquia surgiu 45 anos antes do município. Não é de se estranhar que ao escrever a história da Paróquia Santa Cruz esteja também contando alguma coisa da história da cidade. Por outro lado, não há, tem que se reconhecer, historiador "verdadeiro". Todos têm um ponto de vista, uma formação, uma ideologia e ainda que tentem passar por pesquisadores objetivos, não raro com pretensões de oniscientes e queiram fazer de sua versão a história definitiva. Abstenho-me de tais tentações. Reconheço a estreiteza de meu trabalho e talvez a inexatidão de alguns dados. Sou, apenas, um leigo católico e que procura contar a história sob o ponto de vista de um católico comum. Não sou teólogo ou coisa parecida, por isso não submeti este meu trabalho a nenhuma autoridade eclesiástica. Não que eu despreze um imprimatur ou nihil obstat, mas devido unicamente à despreocupação como me expressei sobre algum ponto de doutrina. Se sou bom cristão, trata-se de outra coisa (deixo isso ao julgamento e, acima de tudo, à misericórdia de Deus), procuro ser um fiel filho da Igreja, que me deu, depois de minha família, tudo.

Não canso de agradecer a Deus por tanto e às centenas de padres abnegados que conheci que me transmitiram tanta coisa. Pena não ter eu aproveitado tudo que eles tentaram passar para mim. Devo aqui deixar meus agradecimentos a todos aqueles que me apoiaram e, acima de tudo, emprestaram-me as suas memórias, e responderam com paciência minhas perguntas, inclusive vários sacerdotes que conhecem nossa história e deram seu depoimento, um de maneira especial devo citar: Frei Nuno Alves Corrêa, religioso carmelita, ilustre filho de nossa terra. Há dezenas de pessoas dentre nosso povo que me deram informações relevantes. Não dá para citar todos. Cito, apenas, meu pai, Alberto Batista de Almeida, que além de ter uma excelente memória, é também um bom contador de histórias. Não posso de deixar de citar D. Gorgônio Alves da Encarnação Neto, bispo de Itapetininga, à qual igreja particular pertence, atualmente, a Paróquia Santa Cruz de Cesário Lange e que me permitiu usar dos livros e documentos da paróquia, como também D. José Lambert, o arcebispo de Sorocaba e seu chanceler, o Pe. João Carlos Orsi, que me forneceram as anotações pessoais manuscritas de D. José Carlos de Aguirre sobre os vigários de Cesário Lange. Enfim, um agradecimento especial ao meu amigo norte-americano e grande pesquisador Charles N. Bransom Jr., que reside na Flórida, EUA e que pacientemente respondeu-me todas as minhas dúvidas sobre as linhagens apostólicas de tantos bispos e sacerdotes. Por fim, cito o Sr. Júlio Domingues, historiador da vizinha Porangaba e Dr. Paulo Fraletti, dedicado pesquisador e guardião das coisas de Pereiras, que me forneceram amavelmente excelentes informações.

Sob o signo da Santa Cruz, repito com o Apóstolo a respeito de Cristo: "Pois é preciso que Ele reine" (1Cor 15,25).

Cesário Lange, 03 de maio de 2004.
Fernando Antônio Batista de Almeida

Nota importante: Essa introdução foi escrita quando dei por terminado o meu trabalho em 03 de maio de 2004. Poderia, agora, fazer algumas atualizações, mas preferi não fazê-las. Pois, entre o final de sua redação e sua divulgação, houve tempo suficiente para muita coisa acontecer. A mais marcante e também mais dolorosa foi a morte de meu pai, que quando terminava meu trabalho já manifestava os primeiros sinais do mal incurável, que o levou para a Eternidade. Alberto Batista de Almeida, filho de Durvalino Batista de Almeida (1889-1959) e de Francisca Rodrigues de Almeida (1894-1975), nasceu em Cesário Lange em 23 de abril de 1925, onde foi batizado por Pe. Pedro Gravina. Foi ungido pelo sacramento da Crisma por Dom José Carlos de Aguirre em novembro de 1933. Quando criança foi coroinha do Pe. Olegário Barata (1933-1937). Embora muito inteligente e aplicado, só pode fazer o curso primário. Por toda a vida foi sempre um grande leitor de livros. Desde criança trabalhou na terra a qual sempre amou: cafezal, roças, pecuária, gado leiteiro. Assistiu a seu casamento com Carmen Aires Mendes de Almeida o Pe. Jorge Mouzizzano em 14 de janeiro de 1950. Nasceram-lhe quatro filhos: Teresinha (19-12-1950), Fernando Antônio (29-03-1952), José Maurício (21-09-1954) e Maria Cristina (05-05-1961). Homem discreto, humilde (abominava a publicidade, a hipocrisia), pobre, mas honrado, trabalhou na terra até maio de 2004, quando lhe acometeu doença fatal. Depois de duas penosas cirurgias e um tratamento que resultou ineficaz, entrou serenamente na Paz do Senhor em sua casa no meio dos seus, confortado pelos santos sacramentos da Igreja que um dia o batizara, às 15h20m do dia 04 de outubro de 2004. À sua memória, dedico este modesto trabalho.

Um comentário:

  1. MUITO OBRIGADA, SR. FERNANDO!!! NOVAMENTE PARABÉNS E BENÇÃOS DE DEUS AO SENHOR E AOS SEUS!!!

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