quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

2 - A origem da Paróquia de Santa Cruz

A capela que funcionava no povoado de Passa Três estava sob a jurisdição e a cura do vigário da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Tatuí. Esta paróquia fora criada da Freguesia de Itapetininga devido a uma reinvidicação dos moradores dos bairros Tatuu, Guaxingu e Pederneiras Pretas, devido a grande distância que havia da freguesia de Itapetininga, por Sua Alteza Real, o Príncipe D. Pedro (futuro imperador do Brasil) a pedido do bispo de São Paulo, Dom Mateus de Abreu Pereira (1795-1824), conforme o livro de Registro e Alvarás, registrado à folha 196, do Livro XI, no Rio de Janeiro no dia 05 de março de 1822. A dita freguesia, conforme o alvará de Sua Alteza Real, deveria ser erecta com a invocação de Nossa Senhora da Conceição no povoado de Tatuí.

Em 24 de outubro de 1908, por decreto do Presidente do Estado de São Paulo, dr. Manoel Joaquim Albuquerque Lins, Lei 1.137, criou-se um Distrito de Paz na Capela do Passa Três com o nome de Distrito de Cesário Lange, nome este dado por sugestão de João Mendes de Almeida, para homenagear o finado professor Cesário Lange Adrien. José Rodrigues Fernandes e dois alagoanos cooperaram muito para isso: Aristides Vasconcellos Leite (1), que exercia farmácia e morava no povoado de Passa-Três e Aureliano da Nóbrega e Vasconcellos, que residia em Botucatu. Os primeiros juizes de paz foram respectivamente: Joaquim Ribeiro da Silva (1850-1928), José Rodrigues Fernandes e Manoel Pereira de Almeida, empossados por Dr. Antônio do Amaral Vieira e Joaquim Assunção Ribeiro no dia 20 de janeiro de 1909.

Neste mesmo ano, acontecia um fato importante para a região. O Santo Padre Pio X (1903-1914) criava uma nova diocese com sede em Botucatu em 07 de junho de 1908, desmembrando-a da diocese de São Paulo. O Papa nomeou como bispo da nova diocese a Dom Lúcio Antunes de Souza (1863-1923). De repente, a sede da diocese de muito longe (São Paulo) ficou próxima (Botucatu). Realmente, em 18 de agosto de 1909, Dom Lúcio fazia sua primeira visita pastoral a Tatuí. Aproveitou-se disso, alguns moradores do distrito de Cesário Lange, talvez com interesse de se distanciarem da influência do município de Tatuí, passaram a trabalhar junto ao novo bispo para que se criasse uma paróquia com vigário próprio em Cesário Lange. Empenharam-se neste mister Aristides Vasconcellos Leite e Aureliano da Nóbrega Vasconcellos junto a Mons. Paschoal Ferrari (vigário geral da diocese) em Botucatu para conseguir tal feito. Realmente no dia 20 de fevereiro de 1914, o bispo Dom Lúcio Antunes de Souza criou uma nova paróquia, conforme o decreto abaixo (conservou-se a ortografia original).

Parochia de Cesário Lange

Dom Lucio Antunes de Souza, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo de Botucatu.

Aos que o presente Decreto virem saudação e benção do Senhor.

Fazemos saber que, tendo Nós em vista o bem espiritual dos Nossos amados diocesanos, usando das atribuições que Nos confere o S. Concilio de Trento (Sés. XXI. De Refor.) por Nossa autoridade ordinária, e delegada, se preciso for: Havemos por bem de desmembrar e separar da parochia de Tatuhy a circumscripção comprehendida entre os limites abaixo indicados, na qual erigimos e canonicamente constituímos uma nova parochia, que dedicamos á Santa Cruz. Seus limites, começando na Cruz Vermelha na estrada de Tatuhy a Botucatu, dahi seguem por esta estrada até o rio Guarapó; este até a barra do rio Sorocaba, e por este até às divisas de Tatuhy com o município de Tietê; dahi até os limites entre os municípios de Tatuhy e Pereiras e por estes limites até a Cruz Vermelha aonde tiveram começo. À esta parochia de Cesário Lange novamente creada, dividida e desmembrada da de Tatuhy, concedemos pleno direito e faculdade para ter Sacrário em que se conserve o Santíssimo Sacramento da Eucharistia, diante do qual arderá sempre, dia e noite, uma lâmpada accesa, pia baptismal e todos os mais direitos, privilégios, honras e distincções, insígnias e distinções de uma egreja parochial. O Reverendo Parocho respectivo haverá todos os emolumentos, proes e perçalços que legitimamente lhe pertencerem de pleno accordo com a Tabella do Bispado. Este será publicado em um domingo ou dia santo à estação da Missa conventual tanto na matriz da nova parochia como na de que foi desmembrada, afim de que chegue ao conhecimento de todos, do que se passará certidão no verso deste; e para a todo tempo constar, será registrado em Nossa Camara Ecclesiastica, no livro do Tombo de ambas as parochias, e mais partes onde convier.

Dado e passado em Nossa Camara Ecclesiatica de Botucatu, sob Nosso Signal e Sello de Nossas Armas aos 20 de Fevereiro de 1914. E eu Frei Modesto Gonçalves de Rezende, Secretario geral do Bispado, o fiz e subscrevo.

† Lucio, Bispo Diocesano.
(transcrição do Livro do Tombo 1-3)

O pároco de Tatuí, responsável então pela capela Santa Cruz de Cesário Lange era o Padre cônego João Correia de Carvalho (nascido em 14 de fevereiro de 1869 e falecido, nonagenário, em Tatuí em 20 de agosto de 1960). Com a criação da paróquia a igreja de Cesário Lange ganharia também um pároco próprio. Enquanto não se nomeava o vigário, a paróquia foi confiada ao Pe. José Gorga (2). Realmente, a primeira missa na humilde igrejinha da nova paróquia foi celebrada pelo Padre cônego José Gorga, então, vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Pereiras (criada em 15 de março de 1876), no dia 22 de fevereiro de 1914 (era o domingo da Qüinquagésima), e que se tornou o encarregado da nova paróquia até a designação do primeiro pároco, que foi o Pe. Pedro Gravina, nomeado através de uma provisão lavrada em 25 de março de 1914.

Assim, no dia 05 de abril de 1914, às 10h00 da manhã (Domingos de Ramos), diante de “uma grande multidão”, depois de lida a provisão episcopal, Padre Gravina fez uma ligeira locução, saudando os seus paroquianos e celebrou a sua primeira missa paroquial. Foram testemunhas da posse do primeiro vigário os senhores Horácio Vasconcellos Leite e Domiciano Rodrigues Paulino. Contava, então, o Pe. Gravina 57 anos de idade quando aqui chegou. Quase de imediato, pôs-se a organizar a vida religiosa da paróquia. No dia 1.º de maio de 1914, ele abençoou a imagem da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, uma doação de Domiciano Rodrigues Paulino (3).

Em 1916, Pe. Gravina informava que a vila de Cesário Lange tinha 52 casas e toda a paróquia teria umas 5.000 almas. Havia 38 meninos e 39 meninas que freqüentavam as aulas de catecismo. Essas aulas eram ministradas às 17h00, aos meninos às terças-feiras e às meninas nas quintas-feiras. Todo dia à tarde, reza-se o terço na matriz, sendo que nas quintas-feiras e domingos há também bênção do Santíssimo Sacramento. Naquele ano, o mesmo vigário informava que houvera 209 batizados, 35 casamentos e 103 óbitos. O vigário fundou a Irmandade do Rosário Perpétuo em 02 de agosto de 1914, em 03 de outubro de 1915 foi feita sua ereção canônica, tendo como primeiro presidente Maria de Vasconcellos Leite e o Apostolado da Oração no dia 25 de junho de 1915, este último tendo como primeira presidente Maria Thereza de Almeida e como secretário o prof. Francisco Mendes de Almeida (1859-1930).

Mais tarde, nos anos trinta, durante o paroquiato de Padre Olegário Barata se criaria outras associações religiosas como a Pia União das Filhas de Maria (18 de junho de 1933), os Congregados Marianos (30 de maio de 1935) e a Cruzada Eucarística (01 de novembro de 1936). Diante da falta de quase tudo para a dignidade do culto católico, procurou Pe. Gravina adquirir o indispensável. Em 30 de setembro de 1915, chegou um "harmonium", adquirido através de subscrição dos paroquianos. A missa aos domingos era celebrada às 10h00 com explicação do Evangelho e às 13h00 havia catecismo para as crianças. À tarde, havia explicação de catecismo aos adultos, orações e bênção do SS. Sacramento. Entre os dias 06 a 18 de julho de 1921, realizaram-se as primeiras missões na Paróquia Santa Cruz. Foram pregadores: Frei Virgílio e Frei Timóteo.

Além das festas próprias do ano litúrgico, a paróquia tinha outras três festas: Santa Cruz, Sagrado Coração de Jesus e depois também, São Roque. Em 1923, a população da paróquia era de aproximadamente 4.124 almas (4), estando a maioria na zona rural. Também o povoado crescia e se organizava.

Funcionava já então as “Escolas Reunidas” num prédio situado na atual Rua Joaquim Ribeiro da Silva na altura do número 811 (antigo 199). Por exemplo, em 1924, a escola tinha 132 alunos, sendo 80 meninos e 52 meninas. O diretor da escola era o prof. Licínio Alves Cruz. Havia também uma escola no Bairro Aleluia dos Mirandas e se criou, nesta mesma época, uma outra escola na Fazenda Velha. Havia também em Cesário Lange um grupo de escotismo que era liderado pelo diretor da escola, comandado pelo anspeçada Procópio Franco e tinha como instrutor o Sargento Ferraz.

Pe. Gravina procurou também reunir a população para construir uma igreja de verdade no lugar daquela igrejinha de pau e barro que media 13,6 metros de comprimento por 11 metros de largura. Efetivamente, já em 15 de agosto de 1917, foi abençoada a "capela-mor" restaurada. No dia 1.º de fevereiro de 1919, o bispo nomeou a seguinte comissão para as obras da igreja matriz: Joaquim Ribeiro da Silva, Aristides Vasconcellos Leite, Domiciano Rodrigues Paulino, José Rodrigues Fernandes, Francisco Mendes de Almeida, João Mendes de Almeida, Vicente Ribeiro da Silva e João Casemiro Martins. Foram pedreiros Domingos Bosso e Joani Bosso (5), ambos de Tatuí. No dia 1.º de julho de 1920, deu-se o começo da demolição da modesta fachada da igrejinha para a construção de uma mais sólida, que terminou em fevereiro de 1921. Gastou-se a importância de 23.840$000 e a paróquia ficou com uma dívida de 6.000$000, que logo foi paga.

No dia 26 de dezembro de 1920, com uma grande festa a qual assistiu quase toda a população da paróquia, foi abençoado e em seguida içado num pequeno campanário um sino de 207 kg, uma dádiva de Domiciano Rodrigues Paulino. Este sino é o mesmo que está na torre da matriz. A antiga torre da igreja foi demolida entre os dias 09 a 16 de julho de 1967, já no término da construção da atual igreja matriz. Em 22 maio de 1921 foi inaugurada a nova fachada da igreja. Urgia, no entanto, reconstruir o corpo da igreja que era muito pequeno e ameaçava desabar. Para tanto, em julho de 1924, Pe. Gravina criou uma comissão composta pelo cel. Joaquim Ribeiro da Silva, Cesário Ribeiro da Silva e João Mendes de Almeida que naquela data já haviam conseguido uma subscrição da população da importância de 8.500$000 para tal empreendimento.

Temos uma outra notícia do jornal tatuiano "O Progresso de Tatuhy" de 24 de janeiro de 1926, que "um grupo de moços amadores se constituiu para angariar recursos para as obras (de construção do corpo da igreja) e para tanto, tem ensaiado e levado à cena diversas peças de teatro, espetáculos que têm atraído grande concorrência e agradado muito". Realmente no dia 1.º de junho de 1926, foi demolido o velho corpo da matriz e a 31 de outubro do mesmo ano, estava já reconstruída de novo a sua nave. A capela mor (o presbitério) e as sacristias receberam novas reformas e assim foi benzido o novo edifício.

Um exemplo das dificuldades de então, temos uma descrição da primeira visita pastoral do bispo ao seu rebanho de Cesário Lange, que aconteceu entre o 07 a 12 de março de 1914, isto é, quinze dias após a criação da paróquia. Dom Lúcio Antunes de Souza saiu de Bella Vista de Tatuhi (até 1919, este foi o nome do distrito de Porangaba) às 12h00, chegando às 16h00 em Cesário Lange. Para a esquecida vilinha, a visita de um sucessor dos apóstolos consistiu num acontecimento único. Quando a comitiva do bispo chegou ao Ribeirão Aleluia, encontrou um numeroso grupo de cavaleiros que o saudaram entusiasticamente, entre eles Aureliano Mascarenhas de Camargo, Cândido José de Oliveira (prefeito de Tatuí), liderados pelo Pe. José Gorga, o encarregado da paróquia e seu irmão Luiz Gorga. Chegando à vila, foi acolhido por uma comissão presidida por Aristides Vasconcelos Leite, com fogos, aclamação do povo que atiravam flores, alunos da escola com seu professor e uma excelente banda de música. Certamente, se tratava da banda de Francisco de Mattos (6), morador da Fazenda Monte Alegre e que ensinava música entre os habitantes da vila. Houve missas, pregações, confissões. Houve mais de 15 casamentos regularizados e ao todo 710 crismas, entre adultos e crianças. No dia 13, à tarde, o bispo partiu para visitar a capela de Quadra, “filial da matriz de Tatuí”.

O bispo deixou registrada a sua emoção e saudade da gente de Cesário Lange, que o acompanhou até Quadra. A atenção do bispo em sua visita de cinco dias à humilde vila conquistou os seus moradores, de maneira que se criou quase uma tradição em relação a cada visita pastoral do bispo, que nada mais era que uma reminiscência do antigo padroado, onde o bispo era considerado um príncipe. A tradição essa que durou até o final do Concílio Vaticano II, quando o bispo de então, Dom José Melhado Campos orientou os vigários que dispensassem todos esses eventos e que a visita pastoral do bispo se resumisse apenas ao seu aspecto religioso.

Entre os dias 25 e 28 de fevereiro de 1918, Dom Lúcio Antunes de Souza fez sua segunda visita pastoral à paróquia de Cesário Lange. Não foi menos apoteótica a visita. Uma comissão presidida por Joaquim Ribeiro da Silva, Domiciano Rodrigues de Machado (sic), Joaquim Mamede de Miranda e grande número de cavaleiros foram encontrá-lo a uma légua de Cesário Lange. Desta vez, o bispo vinha de Pereiras, onde Domiciano Rodrigues Paulino foi buscá-lo em sua carruagem. Satisfeito ficou o bispo com a melhora geral da paróquia. Ao todo, ele administrou 361 crismas. Suas visitas pastorais eram quase uma "missão", pois era acompanhado de diversos sacerdotes, que visitavam os doentes, pregavam, ouviam confissões, regularizavam uniões conjugais.

No dia 25 de junho de 1918, aqui chegou para substituir Pe. Gravina, que fora transferido para a paróquia de Pirajuí, o Pe. João Baptista da Palma. No entanto, três meses depois, no dia 06 de outubro, Pe. Gravina recebeu uma nova provisão do sr. bispo para reassumir a Paróquia Santa Cruz em Cesário Lange, devido a problemas de saúde que o acometeram na nova paróquia. Decisão essa acatada com indisfarçável alegria pelo velho sacerdote. Padre Gravina era doentio e se socorria amiúde com os remédios que lhe prescrevia Aristides Vasconcellos Leite.

Entre os dia 24 de abril a 1.º de maio de 1920, Dom Lúcio fez sua terceira e última visita pastoral a Cesário Lange, vindo, outra vez, de Bella Vista de Tatuhi (sic), nesta época, o nome oficial deste distrito era já Porangaba. Elogia o bispo Pe. Gravina, como um pároco exemplar e se queixa que o bom povo do lugar gosta mais da festa do que dos sermões. Crismou, desta vez, 428 pessoas e legitimou quatro uniões matrimoniais. Tais visitas eram uma odisséia e tanto para o prelado, que embora não fosse muito idoso, não gozava de boa saúde (sofria de nefrite). Na noite de 20 de outubro de 1923, a pequena vila de Cesário Lange foi surpreendida pela notícia do falecimento do estimado bispo, acorrida em Botucatu no dia anterior às 14h00. Uma nova etapa da vida paroquial estava para começar.
***
1) Aristides Vasconcellos Leite (1850-1925) era farmacêutico prático, tinha sua botica no largo em frente à igreja, onde hoje se encontram as ruas Pe. Gravina e José Vieira de Miranda. Ele era natural do estado de Alagoas, filho de José Nóbrega Vasconcellos e de Maria das Graças Leite e que teria deixado sua terra junto de seus dois irmãos Aureliano Nóbrega Vasconcellos Leite (advogado, falecido em Botucatu) e Francisco Nóbrega Vasconcellos Leite (farmacêutico) ao envolverem-se numa disputa com um vizinho de suas terras por causa de um cavalo e que teria resultado na morte do mesmo. Sua mãe os teria persuadido de se migrarem. Casou-se Aristides Vasconcellos Leite com Maria Alves de Lima (Nhá Mariquinha). Faleceu em 12 de maio de 1925. Foram os seus filhos: Aristides (Bibido) que se casou com Ana Rosa, Horácio que se casou com Adelina Alves, Aristarco (Zezé) que se casou com Delfina (filha de Domiciano Rodrigues Paulino), Fenelon (Nenê) que se casou com Elisa (filha de Francisco Ribeiro da Silva), Aristhéia (Tetéia) que se casou com José Vieira de Camargo, viúva se casou com Antônio Mathias Duarte e Maria (Teinha) que se casou com João Mendes de Almeida. Aristides Vasconcellos Leite, se diz, estudava medicina quando se migrou para Passa Três. Certamente, ele não era médico. O primeiro médico que visitou Passa Três foi o Dr. Emílio Ribas, que por volta de 1894 atendeu a uma jovem, filha de Joaquim Mendes de Almeida e que veio falecer em seguida como diagnosticara o médico. O Dr. Emílio Ribas (1862-1925) esteve até 1895 em Tatuí, onde Manuel (Manduca) Guedes Pinto de Mello (1853-1927), então um dos homens mais ricos do Brasil, o trouxera e lhe construíra uma casa.

2) Pe. Gorga era já um “velho sacerdote” e prestava excelentes serviços à Diocese de Botucatu. Residia habitualmente em Porangaba (onde se meteu em contendas políticas bastante discutidas), mas atendia também Pereiras, Guareí e Bofete. Era um padre incansável numa época que não havia estradas e todo o percurso era feito a cavalo. Mons. Castanho (1904-1981), o notável historiador sorocabano, nascido em Guareí e conhecido nos meios literários e históricos como “Aluísio”, “Arnóbius” ou “Aluísio de Almeida” deixou em suas recordações um “retrato” deste destacado sacerdote. “Alcancei-o quando eu tinha cinco anos de idade (1909), agradou-me e me deu um níquel, mas depois sempre vi o seu retrato lá em casa, aliás, casa que ele benzera ainda nova. Os meus sempre falavam dele”. Continua Mons. Castanho em suas memórias a respeito do Pe. Gorga, falando de sua cativante pessoa: “Assim mesmo, viajando tanto não podia passar quieto os dias de semana. Exercitava-se na habilidade das mãos. Com um simples canivete trabalhava a madeira”. Dom José Carlos de Aguirre (1980-1973), primeiro bispo de Sorocaba, escreveu em seus papéis pessoais que Pe. Gorga morreu “avulso” em Conchas no dia 07 de julho de 1926, onde residiam os seus parentes. (Nota fornecida por Pe. João Carlos Orsi, da Arquidiocese de Sorocaba). Mais detalhes sobre o Pe. Gorga encontra-se no capítulo sobre as biografias dos párocos de Cesário Lange, embora, ele jamais tenha ocupado tal cargo. Foi só um encarregado por alguns dias da nova paróquia, exatamente 33 dias.

3) Domiciano Rodrigues Paulino foi um dos maiores patronos da Paróquia de Cesário Lange. Nasceu em Passa Três em 1859, filho de José Rodrigues de Pontes e Maria Paulina do Espírito Santo. Casou-se com Maria Rosa da Conceição, falecida em 1938, com quem teve os seguintes filhos: Cesário, Roque, Domitília, Gertrudes, Inez, Gomilha e Delfina Rosa da Conceição, casada com Aristarco (Zezé) Vasconcellos Leite. Viúvo, aos 83 anos de idade, casou-se apenas no religioso com Hortência Maria Fernandes no dia 22 de junho de 1943, assistido pelo Pe. João Ev. Betting,c.ss.r. Domiciano faleceu no dia 27 de abril de 1950, às 24h00 na Fazenda Monte Alegre do Paraíso aos 91 anos.

4) Este número parece um tanto inflacionado, ainda nos anos 30 serão os mesmos! Aliás, em 1916, Pe. Gravina, como foi visto acima, escrevia que se falava que na paróquia havia 5.000 almas (Livro do Tombo 1, 10). Parece que alguns moradores primitivos de Cesário Lange para convencerem o bispo da necessidade da criação da paróquia tenham exagerado quanto ao número real de seus habitantes. Sem dúvida, havia uma motivação política para tanto. Tratava-se, enfim, de um número aleatório sem nenhuma comprovação estatística.

5) Esta informação foi dada oralmente por Aristides Mendes (Tidão, nascido em 1913 e que faleceu em Tatuí em 2007).

6) - Francisco de Mattos, nascido por volta de 1890, era, o que parece, filho de José Ignácio de Mattos, que por esta época adquiriu a Fazenda Monte Alegre, que em meados dos anos 20 foi vendida a seu genro Francisco Bonifácio de Arruda, natural de Laranjal Paulista, e a Raul Arruda, de Tietê. Francisco de Mattos por volta de 1910 começou a ensinar música a alguns habitantes da vila de Passa Três. Consta terem sido seus primeiros de seus alunos os jovens Umberto Beltrami e João Xavier da Silva (1899-1975). Outros seus alunos foram: Agenor de Arruda, José Vieira de Camargo, Vicente Vieira de Camargo (1851-1967), Aristarco (Zezé) Vasconcellos Leite (1890-1945), José Fortunato, Antônio Antunes da Silva (Tonho do Silvino) e outros. Francisco de Mattos, que faleceu aí por 1980, revelou que entre os antigos moradores de Cesário Lange, os que mais o ajudaram a criar a banda musical foram Benedito Monteiro, Joaquim Ribeiro da Silva, Horácio Vasconcellos entre outros.

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